O DESPERDÍCIO DO BELO NO INFERNO E DO FEIO NO CÉU ("Acredito que estou no inferno, portanto estou nele." — Arthur Rimbaud)
Naquela noite de sexta-feira, enquanto o mundo lá fora se preparava para mais um fim de semana agitado, eu me encontrava diante do espelho em nosso quarto de casal. O reflexo que me encarava não era o de um homem convencional, mas de alguém que aprendeu a enxergar além das aparências.
Minha esposa, Maria, dormia serenamente na cama ao lado. Muitos a chamariam de feia, mas para mim, ela era a personificação da beleza que realmente importa. Observei suas feições relaxadas, lembrando-me de como nos conhecemos e de todas as razões pelas quais me apaixonei por ela.
Flashbacks da minha juventude invadiram minha mente. Lembrei-me de Vanessa, a garota mais bonita da escola, por quem todos os rapazes suspiravam. O encontro com ela foi um desastre - Vanessa era egocêntrica e superficial. Contrastando com essa lembrança, veio à tona a imagem de Carla, a garota tímida de aparência comum, cuja bondade e inteligência me cativaram.
Essas experiências moldaram minha percepção sobre a beleza e o valor das pessoas. Compreendi que tesouros surpreendentes podem ser desperdiçados em lugares sombrios, enquanto joias menos evidentes brilham em ambientes iluminados. Como dizia Charles Bukowski: "Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feia. Assim quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por outra razão."
Voltando ao presente, olhei novamente para Maria. Sua "feiura" era seu escudo contra a superficialidade do mundo. Cada amizade, cada conexão que ela fez na vida foi baseada em seu caráter, sua bondade, sua inteligência. Lembrei-me de nosso primeiro encontro na livraria, onde vi uma beleza nela que transcendia qualquer padrão físico.
Ao longo dos anos, essa beleza só cresceu. Enquanto muitos casamentos baseados na atração física se desfaziam ao nosso redor, nossa conexão se fortalecia. Maria nunca foi arrogante ou egoísta, nunca me fez sentir ciúmes ou me pressionou por extravagâncias. Em vez disso, ela encheu nossa casa de risadas, conversas profundas e amor incondicional.
Deitei-me ao lado dela, refletindo sobre como somos sortudos. Em um mundo obcecado por aparências, encontramos um ao outro - duas almas que aprenderam a valorizar o que realmente importa. Compreendi que a verdadeira essência das pessoas transcende o olhar superficial. Devemos buscar a beleza interior, as virtudes nobres e os valores autênticos.
Antes de adormecer, fiz uma prece silenciosa de gratidão por ter aprendido a lição mais valiosa da vida: a verdadeira beleza reside no caráter, na bondade e na compaixão. É essa beleza que ilumina nossa vida e toca o coração daqueles ao nosso redor. E é essa beleza, eterna e profunda, que encontrei em minha "feia" e maravilhosa esposa.
Adormeci com o coração leve e a mente tranquila, sonhando com um mundo onde a verdadeira beleza, aquela que nasce da alma, seja reconhecida e valorizada por todos. Afinal, é na simplicidade do cotidiano e na profundidade dos sentimentos que reside a verdadeira beleza, invisível aos olhos, mas palpável ao coração.
Questões Discursivas:
1. O texto "O DESPERDÍCIO DO BELO NO INFERNO E DO FEIO NO CÉU" apresenta uma reflexão profunda sobre a beleza e o valor das pessoas. Com base na história de amor entre o narrador e sua esposa Maria, explore a contraposição entre a beleza física e a beleza interior, discutindo como as aparências podem enganar e como a verdadeira essência de uma pessoa se revela em suas qualidades e virtudes.
2. A partir da frase de Charles Bukowski "Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feia. Assim quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por outra razão", analise como a busca por relacionamentos autênticos e duradouros exige ir além da atração física superficial. Discuta a importância de buscar parceiros que compartilhem valores, princípios e objetivos em comum, construindo uma relação baseada na admiração mútua, no respeito e no amor incondicional.
3. O texto destaca a importância de "enxergar além das aparências" e de valorizar as qualidades interiores das pessoas. Com base em suas próprias experiências e reflexões, apresente exemplos de situações em que você presenciou a beleza interior de alguém, mesmo que essa pessoa não se encaixasse nos padrões estéticos convencionais.
4. O narrador do texto afirma ter aprendido a "lição mais valiosa da vida: a verdadeira beleza reside no caráter, na bondade e na compaixão". Discuta como essa lição pode ser aplicada em diferentes áreas da vida, como nos relacionamentos pessoais, na vida profissional e na busca pela felicidade individual e coletiva.
5. O texto termina com o narrador sonhando com um "mundo onde a verdadeira beleza, aquela que nasce da alma, seja reconhecida e valorizada por todos". Imagine como seria esse mundo ideal e quais ações cada um de nós pode tomar para contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e compassiva, onde a verdadeira beleza seja celebrada em sua plenitude.