Diário de Sonhos - #111: Tremendão
No primeiro sonho eu estava em casa e era de noite. Meu e minha mãe estavam mortos e eu lamentava por nunca ter dito a eles que os amo. Uma espécie de névoa ou poeira pairava no ar, formando seus rostos. Falava com eles, mas não me respondiam. Olhei pro céu e vi um vulto cruzando os telhados: um bandido. Ele pula no chão perto de mim. É um homem muito feio e assustador. Fico apavorado, o sangue sobe à cabeça e o corpo gela. Estou com o celular na mão, mas tudo o que consigo fazer é gritar numa voz fraca e sem som: "Socorro! Socorro! Um, nove, zero! Socorro! Um, nove, zero!".
No segundo sonho eu estava em casa com Toshi e Aikawa tocando minha guitarra plugada num amplificador Giannini Tremendão, todo grande e vermelho, um metro e sessenta de altura, cem watts de potência e quatro falantes de dez polegadas. Paro de tocar e vou descansar. Sinto cheiro de queimado. Volto e descubro que um dos dois colocou o amplificador na potência máxima. As válvulas fervem e entram em combustão. Grito: "princípio de incêndio! Ajuda!". Tento apagar o fogo com minha camiseta. Grito pro Toshi buscar um extintor de incêndio, mas de gás carbônico, e não de pó químico, já que este último danifica aparelhos elétricos. Ele me trás um de água que eu uso sem prestar atenção. O incêndio foi detido, mas o amplificador já era. Preciso consertar. É uma relíquia, um amplificador de 1972. Levo num especialista, mas não tem ninguém lá. Vou pra casa. O amplificador é pesado e devo carregar nas costas. Além disso a caixa de alto falantes é separada da caixa de amplificação, o que é trabalho em dobro. Resolvo deixar o amplificador numa rua, perto de uns sobrados, pra ir buscar algumas cordas. Quando estou voltando, de longe vejo um rapaz levando o amplificador pra dentro de casa. Estou apavorado e furioso ao mesmo tempo. Entro na casa chutando porta. Lá dentro a polícia já está à minha espera. Explico que o amplificador é meu e o cara estava roubando. O caro foge e a polícia devolve meu amplificador. Amarro cordas nele e pego nas costas. Percebo que está extremamente leve, quando deveria estar pesando uns trinta quilos. O policial diz que os bandidos levaram as válvulas. São seis válvulas no pré e quatro na potência, e eram válvulas caras ONS (Old New Stock) da extinta marca estadunidense General Electrics. O mundo desabada. Além disso percebo que outras peças também foram roubadas. Na verdade quase todas as peças foram roubadas, incluindo o lendário transformador Wilkason. O amplificador é só carcaça agora. Estou desolado.
Pilar do Sul, cinco de novembro de dois mil e dezesseis.