Santificado seja o Vosso Nome
Com certeza um vendaval descrente, ateu, e sem nenhum respeito agrediu a velha ermida, e o templo rendeu-se aos ventos, o vitraux perdeu fragmentos do seu desenho ilógico, e por ali também entrou a ventania. A cruz, no alto do campanário, foi levada, como uma espada, que abandona a bainha, e parte para uma luta nômade, sem residência fixa, sem pontos finais.
A capela devastada deixou os crentes desolados, a eterna casa de oração... não era assim tão eterna, mostrou-se frágil frente à corrente de ar: o púlpito derrubado já não se mostrava tão alto; o confessionário flagelado, não oferecia sigilo às confidências; ninguém confessou, mas a penitência foi cumprida, a capela pagou, como se tivesse cometido um pecado.
O vento partiu, e o capelão levantou os bancos, levantou o genuflexório, e nele agradeceu aos céus, a pia batismal cedeu a água santa, em troca da água da chuva, seria ela profana? Uma, ou outra hóstia espalhadas pelo chão, como se o Corpo tivesse sido despedaçado.
Milagrosamente o sino agarrou-se à torre, e nela manteve-se incólume, e o vento que tanto o fez soar, de forma impura e descompassada, agora soava, tangia obedecendo ao comando do sacristão.
Um a um os fiéis voltaram à sua Casa Divina, e como faxineiros d´alma recompuseram a ordem do templo.
Voltou-se ali a rezar, a fé não vazara pelas frestas do vitraux partido; os ícones sugados pela mãe natureza, deixaram cicatrizes abençoadas, escombros em cruz afirmavam o propósito do Lar Sagrado, e a cidade então rezou:
“Pai Nosso que estais no Céus.........”