Sarney e os poetas
Sarney, mais de 40 anos de domínio no Maranhão, estado com os piores indicadores sociais do país. Isso foi o que esse homem fez pelo Brasil. Seu legado todo mundo conhece. Certamente até no exterior. Esse foi o civil que a ditadura permitiu que, ao término do período de exceção, se sentasse na cadeira presidencial. Um homem que chegou a provocar o êxodo de maranhenses de seu estado, algo próximo talvez com o que hoje acontece com os venezuelanos, que vêm procurar refúgio em Roraima. Ícone talvez maior de um poder elitista ao qual um partido que julgávamos progressista se aliou.
Esse país só não é mais triste porque é muito rico e belo; não tem ciclones, tufões ou terremotos, embora ocasionalmente haja enchentes; porque praticamente cada um tem uma nega chamada Teresa; cada um torce fanaticamente por seu time preferido; porque existe no Rio de Janeiro uma Cidade do Samba (na Áustria não tem a cidade da valsa, na Argentina não tem a do tango, nos EUA não tem a do rock, etc.); e porque, sendo extremamente católico, pode ficar creditando tudo a Deus, permanecer eternamente sonhando ou enganado. Como inconfessáveis poetas.
E também não somos mais tristes porque não temos aqui o hábito da leitura, assim como um número apreciável de bibliotecas e livrarias (embora tenhamos em casa o Google), para chegarmos ao conhecimento de fatos marcadamente broxantes e desagradáveis.
Rio, 23/10/2016