GOZANDO (COM) LICENÇA! (O trabalhador só se sente à vontade no seu tempo de folga, porque o seu trabalho não é voluntário, é imposto, é trabalho forçado." — Karl Marx)
Hoje, entro em descanso de "apenas" seis meses, são duas licenças-prêmios por trabalhar vinte e cinco anos ininterruptos, no serviço público, como professor. Meu depósito de energias já se encontrava vazio, agora, até meus poros esperam abertos por alguma força. Folgadamente me movo feliz, sem estresse, e o tempo processa minha transformação e credencia essa nova etapa de minha vida. Outrora, podia contar mais com a vitalidade do encanto pessoal, mas agora já há muitas impossibilidades, devido a idade. Tenho por direito adquirido mais três licenças-prêmios. É um direito conquistado, porém é muito difícil tomar posse dele. Por isso, estou deixando para reivindicar o usufruto depois, detesto mendigar, não sei me impor. Apenas exerço minha cidadania. "Algumas pessoas procuram os padres; outras a poesia; eu, os meus amigos." (Virginia Woolf). Sigo o conselho de Sêneca: "Conversa com aqueles que possam fazer-te melhor do que és." Por aqui só com ajuda dos políticos.
Então, minha grande meta para essas "férias" diferenciadas é resgatar o prazer pela vida e a existência de mim mesmo, quem sabe o descanso ressignifique minha atuação social?! Porque com aquelas movimentações de conselhos de classe e problemas todos os dias, faz o clima muito tenso, mostrando-nos cruelmente a realidade do sistema educacional.
A esta altura, alguns alunos que me encontraram na rua, afirmaram que só ganhei a licença por que tinha muitas reclamações a meu respeito. Como obtiveram essa informação? Todavia, não posso largar tudo agora, estou velho demais para começar tudo de novo em outra função, o jeito é pegar o osso e não largá-lo até quebrar os dentes! Ou bem jogo a toalha, ou ainda, encarar o cabresto da aposentadoria, se consegui-la antes da morte.
Ainda reclamo com razão, é verdade que já tive minha oportunidade de glória; todavia, sabemos que as portas se abrem mais facilmente para quem tem boa aparência, portanto não gozo deste privilégio. Pode soar estranho, mas infelizmente, ou felizmente, é assim mesmo que tratam os professores no fim da carreira. Sei que o que me falta na aparência ganho nas virtudes: um conforto ilusório, porque idoso é velho! Mas ainda, quem se importa com as virtudes dos outros? Tenho valor e um enorme potencial, porém como posso me aliar às modinhas? Vivo em um mundo de aparências e fusão dos gêneros, coisas que ainda me são estranhas!!!