O SOLDADO PERSEGUIDO
O SOLDADO PERSEGUIDO
As relações entre comandantes e comandados muitas vêzes é complicada e pode ter sérias consequências, como mostra esta história. Acontecido no Forte Itaipú, lá pela década de 1930, é um caso tenebroso.
Antigamente o soldado podia optar entre comer a comida do exército e pagar por ela ou preparar suas refeições e receber o soldo integral. Chamava-se arranchado áqueles que comiam no refeitório do quartel e desarranchado quem não frequentava o local. Um dos soldados era muito pobre, dessarranchado, acendia um fogo com gravetos e ali, no chão, preparava sua comida. Um dos sargentos era muito amigo dele e defendia o seu direito de não pagar a comida do quartel. Já, outro sargento vivia infernizando a vida do soldado, sempre o ofendendo, pois não aceitava a opção do mesmo de refugar a comida do rancho. Esse estado de coisas foi num crescendo até que a perseguição chegou ao ápice quando o sargento chutou as panelas do soldado, apagou o fogo e o mandou preparar sua comida longe dali. O soldado baixou a cabeça, não falou nada.
Dia seguinte, pouco antes da hora do rancho da noite (jantar no jargão militar), nosso personagem foi à armaria (local que guardam as armas), pediu o seu fuzil para limpar e dar manutenção. De posse da arma, dirigiu-se ao alojamento dos sargentos e aguardou, pois todos os dias o seu algoz ia até o local após o a refeição. Ficou atrás da porta e assim que a empurraram atirou, o corpo caiu sem vida ao chão. Foi conferir, e, reconheceu o sargenteo que era seu amigo. Desesperado, arrastou o corpo para dentro do alojamento eaguardou. Pouco depois, empurraram a porta e o seu inimigo entrou. Não teve tempo de qualquer reação, e foi atingido por uma bala certeira. Com dois cadáveres no alojamento, o soldado apontou fuzil para o queixo e acionou o gatilho. O barulho atraiu várias pessoas que se depararam com a cena trágica: dois assassinatos e um suicídio. O cozinheiro, que era um dos melhores amigos do soldado causador da desgraça, enlouqueceu.
O Forte Itaipú foi construído na Ponta do Itaipú com a finalidade de proteger a Baía de Santos, equipado com canhões e com vista para a entrada do Porto de Santos. É uma área de Mata Atlântica preservada, com aproximadamente 1.500.000 de metros quadrados. Uma floresta densa, somente espaços abertos na implantação do quartel, casas dos oficiais, ruas e estruturas das baterias de canhões. Um paraíso cercado por mar e floresta.
Voltemos ao nosso caso. O cozinheiro, em estado de choque, por sua vez apanhou o seu fuzil e embrenhou-se na mata, sem destino certo, sumindo floresta adentro. Após três dias, encontraram seu corpo, aparentemente atingido por um raio. O detalhe sinistro: seu fuzil estava torcido como um parafuso. Desde criança escuto esses fatos com realmente acontecido na Fortalea de Itaipú.
Paulo Miorim
Santos, 03/11/2016