Amor no Carnaval

Criada no interior, cursando Colégio de Freiras, Rosa nem pensava em namoro. Já havia sido comunicada que só poderia namorar após o seu Baile de Debutantes, após completar 15 anos. E assim foi, sem qualquer revolta. Teve sua paixão no jardim de infância pelo colega Maurício, no terceiro ano pelo colega João Alberto e assim sucessivamente, sem lograr qualquer retorno.

Passado o baile, o baile dos seus sonhos, veio o primeiro carnaval no clube da cidade. Ela e sua turma de amigas resolveram fazer um bloco de “gatinhas” que consistia em um vestidinho curto preto e branco com algumas patinhas aplicadas na parte branca e uma máscara com barbicha e tudo. Queriam arrasar e, ao mesmo tempo, deixar em dúvida tantos e tantos garotos que poderiam vir a ser seus amores.

Na primeira noite Rosa foi puxava por Francisco. Pularam muito na pista e beberam alguns refrigerantes. Comportado Francisco combinou reencontro na próxima noite. Rosa, impaciente, questionou como ele a reconheceria, já que eram ao todo 5 gatinhas. A resposta veio de pronto: “- pelas pernas!”. Não dormiu a noite inteira com o coração sobressaltado. Na noite posterior, mal chegando ao clube já avistou Francisco e mais uma noite foi curtida da melhor forma. Em momento algum houve qualquer pedido para que ela tirasse a máscara, o que a intrigava. Na terceira noite tudo aconteceu como nas anteriores. Muita festa, boa música, refrigerantes e bom papo.

Ela já o olhava apaixonada, preocupada com o final da história. Como poderia ele não roubar um beijo? Era simples: somente pedir que a máscara fosse tirada. Nada! O Carnaval terminou, um beijo foi recebido sobre o pano preto da máscara e restou pouco alento em relação ao futuro. Mais uma noite sórdida, sem sono algum.

Decepcionada Rosa decidiu não participou do “Enterro dos Ossos”, que acontecia sempre na quarta feira pós carnaval e finalizava com chave de ouro os dias de folia.

Passou o restante da semana triste até que, no domingo, sentada em frente à sua casa, percebeu que um fusca azul subia vagarosamente. Dentro dele Francisco com ar terno e, ao mesmo tempo, sorrateiro. Parou, chamou Rosa e confidenciou que, desde a primeira noite, sabia quem ela era. Não quis tirar o brilho de uma moça mascarada.

A partir dalí começaram um namoro terno, cheio de carinhos, de músicas para serem lembradas, de visitas às famílias, de domingos gostosos, mesmo que com “chás de pera”.

A relação durou 3 anos, até que Francisco largou Rosa por Silvia, de temperamento e postura totalmente diferentes.

O mundo de Rosa caiu. Hoje, com mais de 50 anos e já apaixonada por outros homens por diversas vezes, ainda ouve o sino da igreja daquele dia 31 de dezembro quando ele resolveu desposar Silvia após somente 5 meses de afastamento de Rosa.

Tanto Rosa quanto Francisco estão atuamente separados e sabem que nunca mais viverão o que viveram ... mas o som, aquele som de sino de igreja de interior ainda bate nos ouvidos de Rosa como se fosse um estrondoso tambor.

Out.2016

Rosalva
Enviado por Rosalva em 02/11/2016
Reeditado em 02/11/2016
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