Andanças

Nada mais a animava por completo aos 34 anos de idade, até mesmo as suas saídas noturnas com os seus mais afetivos amigos. Queria mesmo era terra firme, mesma cama todos os dias, um carnê de 10 prestações, pago à meia, com o pretenso homem da sua vida para adquirem um máquina de lavar roupas. Queria uma casa. Não a sua que não tinha identidade e nem comida, pois não costumava ter ânimo para cozinhar somente para sí, ficando fora por tantas horas a trabalho.

Chegada as férias, com uma grande amiga, programou uma viagem para o Nordeste. Pacote – quanto menos trabalho melhor.

Saiu cansada e disposta a despir-se das suas angústias por sete dias.

Na chegada um sol maravilhoso, uma pousada aconchegante e uma piscina no meio das instalações. Trocou de roupa e lá se atirou. Não foi preciso um minuto para que batesse o dedo mindinho do pé na borda da piscina e urrasse de dor. Imediatamente foi socorrida por um homem alto, sorriso largo e aparência saudável. A dor era tanta que ela só identificou essas características quando já havia sido medicada por ele no seu aposento, após relutar muito. De início trocaram algumas gentilezas e acabaram ficando amigos. Na segunda noite já tentaram dançar lambada numa boate muito colorida, riram muito e saíram para tomar o ar caloroso de Porto Seguro. No terceiro dia um beijo já havia rolado entre os dois, caminhando pela beira da praia de Trancoso. Naquela noite o sono não veio. Seria amor? Seria carência?

Foram, sem dúvida alguma, sete dias intensos e, no retorno, na conexão em São Paulo, ele confidenciou que estava apaixonado e que a amiga seria convidada para madrinha de casamento. Ela sorriu sorrateiramente, embarcou em outro avião rumo ao seu canto sem identidade e, na mesma noite, tomou coragem e ligou para ele.

Pois bem, em oito meses estavam casados tendo sua amiga como madrinha e residindo na Pauliceia Desvairada. Casamento feliz, os dois om bons empregos, já um tanto maduros e dispostos a levar a relação a contento.

Infelizmente, em função de características muito distintas entre os dois: ela, totalmente livre e cheia de planos, contracenava com o marido ansioso pela aposentadoria. A relação foi desgastando e durou exatamente seis anos, o tempo suficiente para ela sentir-se adaptada à cidade, moldar a decepção e enfrentar sozinha uma “cidade-mãe-de-todos” que a deixava sozinha sempre que não estava no trabalho. Incoerência!

Mas, apesar de tudo, resolveu permanecer em São Paulo em função do salário profissional, já que tinha um propósito: retornar e adquirir o seu apartamento e nunca mais desembolsar qualquer valor em aluguel. Foram dois anos difíceis, longos e muitas vezes cinzentos. Mas a vida e o amor, como sempre, carregaram surpresas e decidiram mudar a sua vida. Iniciou um relacionamento com um ex-colega de antes da mudança de vida e recebeu uma proposta de trabalho irrecusável na sua cidade.

Não hesitou. Largou tudo e, numa manhã de sábado, em companhia de uma amiga que havia oferecido ajuda na viagem, dirigiu por 1.000 km num carro 1.000, com muita esperança e alma lavada.

Adquiriu o apartamento que queria – este com cozinha completa para seguir os passos de boa gourmet como a mãe, o relacionamento não deu certo, o emprego vingou por dois anos, trabalhou em outras empresas, readaptou-se à cidade que deixou, montou uma Consultoria na sua área de atuação e seguiu a vida com seus altos e baixos. Hoje, com 57 anos, casada e feliz pela terceira vez, muitas vezes tem dificuldade para traçar novos planos. Sempre que isso acontece para e pensa que não há como viver sem buscar algo novo para compor o dia a dia, nem sempre transcorrido como sonhado. Depois de tantas mudanças, andanças, maridos, cursos, capacitações, mudança de cidade, está construindo a sua casa. Agora poderá colocar os pés descalços na grama e, na semana passada, matriculou-se num curso de Reiki. Percebeu que continua na busca! Afora com seu marido, anda carente de amor.

0ut.2016

Rosalva
Enviado por Rosalva em 01/11/2016
Reeditado em 02/11/2016
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