O TEATRO ESTÁ DEIXANDO DE SER SONHADO

Patos, uma velha senhora, mas de coração varonil, dá mostras de que ainda vale a pena. Essa destemida sacode as agruras antepassadas, e ressurge, à cada revés, mais fortalecida; talvez, pelo entusiasmo peculiar de seus filhos de espírito.

Uma nota feliz: o teatro está deixando de ser sonhado.

Acima da antiga Unidade Cultural estaremos mais próximos do céu... – E que venham as estrelas com suas constelações intermináveis. – E que assim, abundantes de luz, possamos ser menos arrogantes.

Uma nota/conselho: a soberba não combina com nada.

Alguns artistas têm a ilusão do apuro absoluto. Esses são os mais tolos. Por toda a vida, ouvirão o que lhes for conveniente, como aplausos disfarçados de fingimento. Morrerão sozinhos. E, pior do que a solidão existe muito pouca coisa. Artistas, bastem-se! De que vale o regurgito da empáfia. Um dia, o espetáculo passará; sairá de cena, assim, sem cerimônia, para dar lugar a um outro menos afetado.

Nunca seremos inteiros, sinto dizer. A mim, Deus confiou uma corda de minutos. E, soprou-me às ventas. Vai meu filho encontrar teu caminho... – A melhor direção é também a minha punição. Mas para isso tenho que confirmar ser quem sou.

Ah! Um teatro! Para onde farão convergir todas as boas conversas. E as velhas e novas amizades; e os livros de história; e as histórias inventadas; e as fotografias de antigamente; e as imagens de agora; E os Nelsons Rodrigues... - Por tudo isso, o teatro só poderia nascer assim: suspenso. Poupem-me da discussão de seu nome. Isso é política.

Se não terá a magnitude de Dodona, santuário oracular de Zeus, na Grécia antiga, onde as azinheiras sussurravam aos mortais, sob o olhar atento das impenetráveis montanhas de Epiro, o teatro da cidade de Patos, Paraíba, será erigido sob a égide da devoção. Colossal também não seria um termo apropriado, pois a hora não é de ostentação, mais de exequibilidade.

Ao ousar ser mais preciso, quem sabe: justiça, perseverança e boa vontade, fossem atributos mais bem declarados. Porém, que se descortinem para o primeiro ato, os panos da discórdia. Em cena: todos os protagonistas dessa peça: Deus maravilhado; espelho da conquista. E que à platéia, assentado de forma emparelhada, esteja o nosso povo: vetor e válvula de escape; motivo e tolerância; inspiração de toda a vida.

Ad gloriam! Que eu viva para o primeiro cartaz.

* Para o registro da história, esse texto foi publicado no livro A RUA GRANDE DE MEUS PAIS, no ano de 2008 de nosso Senhor Jesus Cristo.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 01/11/2016
Reeditado em 10/04/2023
Código do texto: T5809903
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