SACRIFÍCIO SEM VALOR ("O mar, o azul, o sábado, liguei pro céu mas dava sempre ocupado" — Paulo Leminski)
Eu já estivera melhor em outros Sábados, mas naquele estava andando como caranguejo, olhando para trás. Fui para a cama às três da madrugada, de sexta para sábado, digitando nota de aluno como uma obrigação do trabalho; pois, o conselho de classe, onde se expõe notas, seria logo pela manhã. Passei por muitas experiências insanas dessas na minha profissão: Minha vida está errada: errei na religião, errei no casamento e errei na profissão.
Minhas derrocadas não mudam nada no sistema, mesmo que eu reclame de minhas desgraças, somente acabam comigo e aguçam seu preconceito e desejo de vingança. Era um trabalho não criativo, diga-se de passagem, do tipo que me atrofiava! Lá na reunião, eu estava cansado sem nenhuma condição de estabelecer conversa que fortalecesse alguns dos laços respeitáveis de uma boa participação, podendo apenas aumentar as diferenças; estava incapaz de compreender as expectativas do contexto. Assim, fizeram-me o homem que sou hoje: insensível e amargo. Na linha de montagem também fui peça desajustada. Por isso, agora e em todos os sábados letivos, não posso ir trabalhar. Prefiro os perigos da má reputação e todas as broncas da coordenadora. Podem cortar meu ponto, mas cansei de hora extra!
Geralmente, meus sábados e sempre desenrolam em ritmo doméstico: é trabalho missionário! Não saio para me divertir, apenas descanso a menor parcela de mim. Não posso deixar de cumprir as obrigações em casa. Eu vou sempre fugir das imposições, é claro; por isso, estou matando hora extra!