Escrevo?
Escrever o quê? Para quem? Escrevo?
Titubeio cada vez que encaro o silêncio longo das palavras. Entre os anseios que seguem surge o questionamento inevitável: nasci mesmo para escrever? Talvez eu nutra mera teimosa em idealizar um sonho além da conta.
Qualquer sujeito metido com papel e caneta já tentou preencher seu próprio vazio fazendo uso das palavras, arrisco afirmar. Nesses instantes eternos e dolorosos de dúvida vem a suspeita indesejável: meus escritos nunca mereceram ganhar o mundo. É como se cada frase ou rascunho de texto só encontrassem refúgio aqui, neste velho caderno onde anoto meu melodrama de espectador único. Este é o resort onde meu delírio de grandeza descansa.
Eu rumino a ideia, mas não há nada além destas páginas, só a certeza de falha. E é disso que ainda fujo.