Assistindo o Chão

Dois saltos em uma semana. A pior semana do ano era em outubro. Justo em outubro, mês de seu nascimento. No início da semana, havia assistido o céu então descer mais pesado que tudo o que já havia suportado. Ao final, a terra que até então estava dura sob seus pés, e que ainda a sustentava, estava também desmoronando. E para onde iria? “Será que o limbo é um bom lugar?” A única solução era vagar no espaço como um objeto em órbita da terra, apenas observando as vidas alheias e tendo que sorrir sempre. Fingir que está tudo bem: sempre. Por que motivos? Não decepcionar os amigos? “Que amigos?” Questionou. Aqueles que sabem criticar e questionar e que, na maioria das vezes, abusam, aproveitam. Individualistas disfarçados de preocupados. Tudo por essa gente hipócrita. Havia um ego muito vulnerável em jogo. Não valia a pena, não eram aceitos. Preferia a solidão, que assim como a morte e a tristeza era a certeza que tinha. Nela se podia confiar, estaria sempre ao seu lado. Haviam figuras fantasmagóricas do passado, presente e futuro assombrando o coração. A cena nostálgica de ficção do choro da criança às margens do rio não saia da sua cabeça. O barulho da água do rio escoando junto com as suas lágrimas, além dos objetos ressurgindo dos pensamentos em volta. Tinha que jogar tudo no rio. Não havia mais esperança, pois terra não tinha mais. O chão estava aberto assim como as feridas internas em seu corpo, estômago e em seu coração. Estava morta por dentro.

Ubirani
Enviado por Ubirani em 31/10/2016
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