TENHO QUE TER ALGUÉM PARA SEGURAR NA MINHA MÃO.

Com o decorrer do tempo, fiquei mal acostumado, eu que vim ao mundo sozinho, meio que meio apressado, - Sou de sete meses, tenho que ter alguém para segurar na minha mão!
E a correria dos dias, e a dança das horas, não comungam com a minha pressa de vir! – Como se conscientemente eu soubesse o porquê de adiantar-me dois meses para vir ter aqui...
E assim, vou indo ao sabor dos ventos dos acontecimentos, calando-me, vez e outra, falando pelos cotovelos noutras...
E escrevendo!
Procuro no silêncio de meu silêncio ter algo para comunicar... E preso cada audiência, de forma especial... Uma a uma!
Mas, no frigir dos ovos, tenho que ter alguém para segurar na minha mão!
Esta necessidade do outro, é antes a convicção de que não somos nada sozinhos, tendo em vista que o que nos distingue é o olhar que recebemos dos que nos circundam, e que influencia no olhar que temos de nós mesmos... Em outras palavras: Preciso que haja uma comunhão entre mim e os outros!
Mas existem tantas dificuldades de entendimento, mesmo a nossa fala parece que cai nos ouvidos alheios com certa perda de sentido, ou antes, não dizemos o que querem ouvir...
E para alguém que presa tanto os outros, é um momento de estranhamento, este alheamento dos outros, que chega a causar dor...
Assim, tenho feito como o Padre Vieira, vou seguindo, pregar aos peixes!
Mas, assim, onde a minha casa? Onde os meus?
Eu que tenho que ter alguém para segurar na minha mão, e sentir a força e o calor, e até o frio, nas mãos alheias, - O que me espanta, tenho a sensação do nada, em que pode se tornar uma vida...
- E pensar, que do nada viemos, e para ele retornaremos...
O que é afinal essa coisa chamada vida?
Para o que viemos ter aqui neste mundo cheio de penas?
Nunca em minha cabeça, Vidas Secas de Graciliano, fez tanto sentido...
Será que será sempre isto, procurar “a parte que me cabe neste latifúndio”? , sempre andarilhos, levando como nossos andrajos, nossas almas e corações cheios de remendos...
Será esta a nossa sina?
Sismo comigo mesmo, chegando às raias da cólera, onde foram parar as alegrias? Os sorrisos? As palmas entusiasmadas?
E respondo entre dentes... Estão todos lá fora!
Lá, ao redor de mim...
Lá, onde o sol desponta, e onde o sol morre!
Lá, onde as estrelas fazem festa, onde a lua mostra, quando quer a própria face!
Lá, onde existe quem queira estender as mãos para quem chega...
Lá, onde acenam para quem parte...
No próximo trecho da caminhada!
E repito para que grave em minha mente: Estão todos lá fora, externos a mim...
E assim, sigo...
Porque eu tenho que ter alguém para segurar na minha mão!
O problema não é o que trago nas memórias... Nem o que sinto ou o que penso...
-Pois, o homem é o que acredita!

Edvaldo Rosa
www.sacpaixao.net
20/09/2016


Esta crônica pode ser lida em: http://revista.plenaidade.com/outubro-rosa/