Uma recomendação

Se tem uma prática que se tornando mais popular contribuiria para um mundo melhor e menos ansioso, essa prática seria ir ao psicólogo.

Como quase tudo, requer coragem, tempo livre e dinheiro; mas todos temos coisas a resolver, se queremos ser pessoas melhores, se queremos viver a vida com mais intensidade e calma, se queremos resolver atritos e pequenos traumas - coisas que todos temos. Algo que ameaça a saúde mental deve ser visto da mesma maneira que algo que ameaça a saúde física: devemos nos colocar de molho, descobrir a razão e quem sabe, procurar ajuda. Se sua perna quebra você não continua andando, certo?

Muitas coisas repelem as pessoas dos consultórios, e essas mesmas já são pistas de um mundo doentio, perfeccionista. Algumas têm vergonha de se enxergarem como pacientes, como pessoas ainda em construção. Mas veja, todos somos. Todos temos assuntos inacabados dentro de nós, pontos de interrogação que fazem o sangue borbulhar se chegam à superfície. Coisas que nem sabemos explicar. Que muitas vezes são vistas como bobeiras, ciscos. Mas basta um momento mais difícil para se transformarem em doenças enormes e maiores que a gente.

No final do ano passado, com as pressões do vestibular nas costas, resolvi pedir ajuda. Juntei o dinheiro, o pouco tempo que sobrava entre o cursinho e o colégio e a coragem: pedi ajuda. E eu não podia ficar com mais orgulho de mim pensando nessa atitude que tomei, hoje, tanto tempo depois. Foi essencial para quem eu sou hoje e para quem estou me transformando, e está multiplicando a minha qualidade de vida cada vez mais.

Pouco tempo depois, várias pessoas já estavam notando a diferença. Eu descobri que estava sabotando minha própria serenidade com expectativas muito altas sobre mim e sobre os outros. Descobri uma coisa que foi chocante: sou perfeccionista.

Nunca me vi como perfeccionista porque nunca tive tanto capricho com as coisas que faço - toda vez que imaginava um deles, me vinha à cabeça um estudante nota 10, uma pessoa que não descansasse até ter tudo pronto e limpo e correto à sua frente - e eu nunca fui assim. Como eu mesma comentei, a maioria das coisas que faço são medíocres, medianas. Mas descobri que eu era ( e pensava) justamente assim POR SER PERFECCIONISTA.

Antes de fazer qualquer coisa, meu impulso natural é fabricar expectativas gigantes para essa coisa. Com medo de finalmente colocar em prática algo que vai ser muito difícil de conquistar, eu acabo procrastinando, já acreditando no meu próprio fracasso, e me sentindo mal por não fazer essa coisa perfeitamente. Tudo o que não era perfeito eu acaba julgando como mediano - nunca bom ou ótimo.

Vejo que muitas, muitas das pessoas que conheço também procrastinam e se consideram medíocres, e não vêem essa prática como algo perigoso...sim, é, você também (quem sabe) é um perfeccionista, e talvez isso esteja afetando suas relações com os outros, consigo mesmo e com o mundo.

Acredito que a ditadura da felicidade atual está contribuindo para um mundo de perfeccionistas. Pois tudo em volta está conspirando felicidade: os comerciais te vendem felicidade por meio de um produto ou experiência. Nas redes sociais, tudo o que vemos são fotos sorridentes, rostos maquiados, pessoas detidas de uma felicidade incorrigível...será mesmo?

O que acontece é que não se pode ver a realidade por trás das fotos. Eu, por exemplo, me sentia muitas vezes diminuída pelos textos de vários escritores geniais que havia seguido no facebook. Como eles eram criativos, inteligentes, e sempre tinham algo na manga! A psicóloga me relembrou que infelizmente eu nunca saberia quanto tempo o escritor passou ali, sobre aquele texto ou poema, riscando, escrevendo de novo; qual a intensidade de seu esforço posto ali, quais os livros que leu que inspiraram aquilo...Tudo parece pronto e rápido na internet, mas não é - cuidado.

Precisamos aumentar a visibilidade da psicologia como uma ferramenta NECESSÁRIA para a vida e para o autoconhecimento. Nunca estivemos tão ansiosos, tão inchados de pensamentos mecânicos, tão desconhecidos de nós mesmos. Não adianta construir casa em condomínio, conquistar impérios e nos rodear de pessoas amáveis e importantes se não conseguimos ter SERENIDADE para aproveitar tudo isso. Se não conseguimos descansar.

Se você, leitor, está por aí dificultoso e patinando nas suas relações, seja com os outros, com o espelho ou com as rotinas da vida, eu te convido a tentar procurar ajuda. Vá sem compromisso. Agende um horário só para ver como é, se te cabe. Eu não poderia ter tomado atitude melhor.