Ressucitando Otello
Ressucitando Ottelo
Há dias e dias!!!
Quando adolescente, tínhamos, eu, minha irmã e mais duas (ou três) amigas, uns cadernos aos quais demos nomes, e todos deveriam começar com O... o meu chamava-se Ottelo ou Otto, não me lembro bem.
Ali escrevíamos simplesmente tudo o que vinha na nossa cabeça. Claro, cada uma tinha o seu! (e me lembro que fiz 3 cadernos "gordos" de registros!)
Não era simplesmente um diário... era muito mais que isso! Ali eu anotava o que vinha na cabeça, e do jeito que vinha. Eu contava segredos. Eu chorava por escrito... e ria por escrito também! Eu desenhava (ou tentava... nunca fui muito boa no desenho!). Eu registrava ideias e inventos mirabolantes... eram tantas coisas! E eu era tão eu! Algo como o " fluxo da consciência" tão praticado por Cecília Meirelles, mas com a ingenuidade própria de menina... (longe de querer me comparar à Cecília Meirelles, claro! rs)
Me lembro da alegria interna que sentia, quando voltava da escola e pensava: "Ah! Agora vou escrever no Ottelo". E às vezes passava horas escrevendo, às vezes desenhando... me lembro de uma vez em que escrevi páginas e páginas em cores de "canetinha" diferentes (lembram das "canetinhas"?), com o nome (e sobrenome!) do menino por quem eu estava apaixonada! Como se ao escrever seu nome tantas vezes, ele pudesse se materializar na minha frente e me dizer que estava, também, apaixonado por mim! Coisas de adolescente! Coisas deliciosas de adolescente!
E até hoje sinto tristeza e arrependimento por ter, um dia, decidido jogar os meus 3 ou 4 "Ottelos" fora! Quanta história e quanto sentimento tão meus foram pro lixo!
Pois é, comecei a contar sobre o caderno, porque nele registrava meus dias... os bons e os não tão bons e, desde sempre eu soube: há dias e dias!
Hoje não tem sido um dos melhores dias...
Tô pensando aqui se eu ressucito o Ottelo...
(em 19.11.2015)