PERRENGUE...


Estamos juntos há exatos 37 anos. Lembro-me do dia que o trouxe pra casa. Foi amor à primeira vista. Quanta coisa passamos juntos, quantas alegrias, quantas viagens, quantas serestas...
Incontáveis e inesquecíveis momentos!

Nos últimos 10 anos eu o abandonei. Sabia que estava ali num canto qualquer do quarto, mas nunca mais olhei pra ele ou quis saber dele.  Nunca mais o toquei e deixei-o à sua própria sorte.
Quando foi que nossa história de amor teve fim, perguntei-me. Não soube responder.
 
Semana passada sonhei com ele e a saudade dos velhos tempos me fez voltar a querer tocá-lo. Procurei-o, despi-o lentamente da capa que sempre o protegeu e acariciei-o saudosamente. Dei-lhe roupas novas, um novo lugar na casa, na mesa e no meu quarto.

Meu violão Di Giorgi, ano 1979. Chamo-o, carinhosamente, de “Perrengue”. Comprei-o com o primeiro salário que recebi na vida, aos 19 anos, e foi um perrengue aprender a tocá-lo.


Suzana França, em 05/10/2016

 
Suzana França
Enviado por Suzana França em 27/10/2016
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