O Céu Caiu

O dia inteiro foi de febre. Peso no ar. Às vezes a dor de cabeça e o aperto no peito são fiéis sinais do trauma iminente. Não era medo, era uma sensação de holocausto. Tragédia. Agonia de Murphy. Vai acontecer, mas onde, com quem?!?! Desespero. Naquele momento nada adiantava além de se apegar à crença, esperar e não olhar mais os números nem as placas de carro. Efeito de anos de lógicas absurdas e conclusões psicodélicas de futuros próximos. Não fez diferente. Rezou, chorou e esperou. Voltou à casa vazia. E agora?!?! O que me diz esse magnetismo? E sentiu a mesma sensação até o fim da noite. Refletiu sobre o passado. Não tinha vitórias. Poderiam ser o motivo da tal sensação, tentou confortar-se, mas havia ainda uma faísca. Tentou contato de um próximo: não houve resposta. Então, entendeu. Estava ali. Depois de mais algumas horas: uma mensagem de outro próximo sem sentido. Depois o contato verbal. Enfim, encontrou o indefinido. A variável dos aflitos. Nenhum dos rapazes egoístas e negligentes que já tivera no passado superava. Havia gritos, choros, confusão, multidão, palavras de baixo calão. “E as crianças?” – Não. Isso não se faz. “Um dia vocês vão doer também.” A noite foi de claro e inverno. Teve que acordar no dia seguinte e seguir a rotina dos doloridos, sem forças ainda. E o dia seguiu nublado.

Ubirani
Enviado por Ubirani em 26/10/2016
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