Uma estranha em ninhos alheios
 
Há dias, comigo, sozinha em meu cantinho, continuo nessa minha saga e procura incessante pelo próprio caminho. Estou em busca de meu próprio Eu. Parece papo de terapeuta e paciente, eu sei, mas acho que faz sentido. Descobri que preciso disso. Há dias, estou à procura da menina, da mulher, da mãe, da profissional, da poetisa que ama e de mim mesma, a única que dá vida a todas elas... Só falta decidir o que fazer quando as encontrar. Não sei se devo ouví-las uma por vez, deitadas em um divã ou a todas de uma única vez, a fim de melhor tentar compreendê-las. Tenho receios de que elas me enlouqueçam se começarem a falar todas juntas... Só sei que, enquanto não as encontro, flagro-me em uma caça sem precedentes pela criança sonhadora de outrora e me deparo com essa pessoa estranha, ora feliz, ora tristonha de agora...

Parece solitário, mas é nesse meu monólogo silencioso e diário, que descubro um pouco mais sobre mim. Descobri que, ao me defrontar com meus medos, os monstros que me assombram em pesadelos, num primeiro momento, mostro-me frágil e insegura sim, mas em questão de segundos, sou capaz de crescer e enfrentar o mundo, com uma força descomunal. Descobri que, apesar de já ter amadurecido um pouquinho, ainda sou impulsiva, intempestiva, ciumenta, possessiva e por que não dizer, um tanto quanto infantil? Ainda tenho meus momentos de fúria, de ódio, de inquietação. Ainda me faltam doses elevadas de equilíbrio e concentração. Mas, posso mostrar-me calma, serena e tranquila, ao encontrar alguém que, apenas, me doe um tantinho de seu tempo e que esteja disposto a deixar meu silêncio ecoar aos quatro cantos... Nossa, eu reconheço, como sou difícil e contraditória! Dá vontade de rir de mim mesma certas horas... Deve ser por isso, que desperto tantas opiniões divergentes e contrárias a meu respeito.

Há os que me julgam errado sem me conhecerem. Há os que me julgam certo, só de me olharem no fundo dos olhos. Há os que me julgam errado, mesmo me conhecendo há anos. Eu sei, é complicado... Por isso, há os que simplesmente me julgam e ponto... Há os que juram que meu silêncio soa estranho, dando-me um ar de mistério e encanto. Mas, o que para alguns é até um certo charme, para outros é confundido com antipatia, arrogância e vaidade... E por fim, há os poucos (pouquíssimos) que me acham um anjo, um doce de menina, afinal... 

Vendo-me de meu próprio ninho, enxergo-me como alguém que precisa de seu próprio tempo e espaço para se adaptar ao novo ou ao velho, que seja... Alguém que precisa se descobrir para se mostrar, alguém que só precisa ter o livre arbítrio de escolher o que quer, sem ter que chocar a quem quer que seja com sua decisão... Alguém que só precisa de seu próprio silêncio. De tempos em tempos, até me dou o direito de me transportar a outros ninhos, outros mundos e mesmo não dando muita importância, aliás, importância alguma aos julgamentos dos outros, fico surpresa com os sentimentos contraditórios que meu silêncio desperta em ninhos alheios... Será que sou mesmo da forma como me julgam? Ou, será que não estou enganada, na forma como eu mesma me julgo e, aquela estranha pra mim, realmente sou eu na realidade? Não sei, mas o fato é que não me reconheço assim como dizem... 

Pode ser até egoísmo meu, mas como meu silêncio faz parte de minha essência, nasceu comigo, é algo natural, não posso e não vou abrir mão de meus momentos comigo,  para me enquadrar ao que os outros julgam ser normal... E quanto a minha introspecção... O que alguns julgam ser meu marasmo, eu julgo ser minha turbulência, meu maremoto, minha emoção... E é lá meu refúgio e minha casa. E é lá onde encontro minha paz...
Aliesh Santos
Enviado por Aliesh Santos em 25/10/2016
Reeditado em 25/10/2016
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