"Vai Um Cafezinho?" = Histórias de Amor Safado


- Vai um cafezinho aí, moço?
Levei susto ao ouvir a voz da moça. Estava distraído no escritório da escola de meu pai, imerso nas contas das mensalidades a receber, quando a voz suave fez-se ouvir.
Eu disse que sim e ela, sorridente e amável, encheu até a borda um copinho plástico e me entregou, com perícia e rapidez, sem deixar cair uma só gota. Eu é que estava sujeito a derramar café caso pegasse da mesa aquele copinho a ponto de transbordar.
- Você encheu demais o copo, moça.
- Desculpe-me. É o hábito. Todo mundo quer que encha até a borda. Mas espere que vou lhe servir outro.
- Não se preocupe. Não precisa mesmo. Eu dou um jeito.
Abaixando o rosto até o copo, suguei um pouco do líquido e logo pude levantá-lo com a mão.
- Pronto. Agora não tem mais o perigo de derramar nos papéis.
- Está bom o café? – ela perguntou, rindo do jeito que eu contornara o pequeno problema.
- Está ótimo. Parece que acabou de ser feito.
- E acabou mesmo. Fiz agorinha mesmo.
- Desculpe-me a pergunta, mas você vive só de fazer e vender café?
- Por enquanto. E o café nem é meu. Eu só revendo. Ou melhor, faço e revendo. O dono é um conhecido meu que tem um monte de moças vendendo café pelos escritórios.
- O cara é um gigolô de café...
Ela riu de novo e achei bonita sua risada cristalina.
- Digamos que sim. Antes a gente chegava ao escritório, pegava as garrafas cheias e saía vendendo. Agora ele dá uma chave para cada uma e nós mesmas fazemos o café. Ele fornece todo o material e paga uma comissão.
- Interessante...E vocês vendem muitos cafés por dia?
- Eu vendo uma média de cinco garrafas, mas algumas colegas vendem bem mais.
- E como é que ele controla o quanto vocês vendem?
- Pelo consumo de pó e açúcar de cada uma. Todas as garrafas têm a medida certa de consumo.
Na verdade aquele comércio pouco me interessava. A moça é que era bem interessante.
- Olha moça, eu não tenho nada a ver com a sua vida, mas bonita, simpática e atraente do jeito que você é, não se daria melhor vendendo outras coisas? Cinco garrafas de café por dia podem dar quanto de comissão? Aposto que é uma mixaria.
- Sabe que dá bem mais do que o salário mínimo no fim do mês? E o bom é que a gente sempre tem um dinheirinho, pois ele paga todos os dias pra não acumular.
- Posso saber quanto é que ele paga de comissão?
- Pode. Vinte por cento. Em cinco garrafas eu ganho uma.
- E porquê você nunca passou antes por aqui?
- Minha área foi ampliada agora. Estamos nos expandindo aos poucos. Hoje eu já trouxe seis garrafas e tenho agora mais três prédios grandes pra visitar.
- Então não deixe de passar amanhã e todos os dias. Gostei do café.
A simpatia com que ela me olhou deu-me coragem e acrescentei:
- E de você.
Outro sorriso ainda mais bonito.
Paguei o café, pedi mais um por tê-la segurado por algum tempo no escritório da escola e não me esqueci dela o dia todo. Que jeito simpático, amável e agradável o dela! Um jeito de sorrir, que era um misto de ingenuidade e esperteza ao mesmo tempo, e um par de olhos grandes e negros que me tocaram profundamente. Devia ter uns dois ou três anos mais do que meus parcos dezessete, quando contava, ansioso, os dias que me faltavam para chegar à maioridade relativa. Maior bobeira.
Fiquei viciado no café que a moça vendia. Tomava um quando ela chegava e o outro eu deixava esfriando no copo. Depois que ela ia embora eu o jogava fora e ia ao bar tomar outro, mais quente. Pagando dois cafezinhos de cada vez ela se demorava um pouco mais no escritório e eu não me sentia culpado por retê-la mais tempo comigo.
E seu eu comprasse três, quatro, cinco cafés? Claro que a demora de sua visita seria maior. Em compensação meu salário iria todo embora em forma de cafezinhos...
O horário em que ela passava era o único em que eu ficava sozinho na escola. Meu pai chegava para dar as aulas só depois do almoço e os alunos só depois de meu pai.
Dez dias depois de haver tomado meu primeiro cafezinho comprado dela, nossa intimidade já era evidente. Beijinhos ligeiros ao cumprimentar, mãos dadas por qualquer motivo, agradinhos diversos de ambos os lados, e a coisa foi evoluindo. A coisa foi evoluindo e meu desejo crescendo.
Ela era mais velha do que eu. Eu era apenas o secretário da escola de meu pai e ganhava um salário de pai pra filho. De pai que sustenta o filho e não lhe deixa faltar nada. Um salário de filho que dava mais despesas do que lucro. E ela sabia disso. Sabia que para um relacionamento sério eu não tinha futuro imediato, mas mesmo assim foi se chegando, ficando cada vez mais meiga, mais agradável, deixando mais e mais saudades em sua ausência.
Eu, molecão novinho e intimidado, com medo de levar um “chega pra lá”, não conseguia tomar uma iniciativa no sentido de ficarmos a sós. Ainda não desenvolvera a técnica de apenas chegar e pedir que me desse o que eu queria. Técnica que mais tarde facilitou bem a minha vida... sentimental, digamos assim.
Foi ela quem resolveu meu sério problema:
- Olha só o que me aconteceu ontem. Vê se pode...Um coroa daqui deste prédio queria pagar a garrafa toda de café pra eu ficar com ele pelo menos uma hora.
- Fazendo o quê?
- Adivinhe se for capaz...Eu disse a ele que de jeito nenhum eu faria isso. Ainda se fosse com você...
Aos dezessete anos de idade, pouco antes de chegar aos dezoito, tive minha primeira falência comercial. Gastei mais do que meu salário do mês pagando uma garrafa inteira de café por dia útil da semana. Era vale atrás de vale que pegava de meu pai.
Em compensação...

Ps: Foram minhas únicas relações sexuais na vida tendo entre as pernas, minhas e dela, um vaso sanitário. Ainda bem que o banheiro da escola era limpinho. Mas o chão era frio pra valer. Alguns meses depois fui convidado para o casamento dela com o dono da empresa de cafezinho. Festa legal. Só não tinha café.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 26/07/2007
Código do texto: T580181
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