Psicanálise (Pagando pra Perder Tempo)

Pra começar, nem de longe uma ciência objetiva. Um freudiano, um lacaniano e um junguiano podem te dar pareceres completamente diferentes, ou parecer algum. Você pede ao psicanalista ajuda na interpretação de um sonho carregado de simbolismo e ele te pede pra interpretar sozinho, afinal o sonho é seu, os atos falhos são seus, as racionalizações são suas. Nesse ritmo, não é de espantar a recomendação padrão de duas sessões por semana. Mas imagine R$ 200,00 por sessão. Você consegue um insight a cada dois meses, se muito. Isso dá no mínimo R$ 3.200,00 por insight. Questionado o investimento, o psicanalista insinua que a culpa é do ego do paciente. ‘Paciente’ só mesmo na classe gramatical de adjetivo, porque um vidente com um mínimo de perspicácia, experiência de vida e técnicas manipulatórias não ousaria chamar seus clientes de pacientes. O cara não passou por anos e anos de faculdade de medicina e residência. Tudo que fez foi colecionar teorias datadas e tendenciosas pra depois ministrá-las pela goela de pagantes que, providos de paciência mas desprovidos de estudo e senso crítico, engolem tudo sem questionar, porque questionamento é sempre interpretado como resistência. Atraso retaliativo ao atraso no atendimento é sempre interpretado como resistência. Todo posicionamento contrário à arbitrariedade e falibilidade humana do profissional é sempre interpretado como resistência. Esse pensamento cartesiano te deixa tão burro, preconceituoso e recalcado quanto o psicanalista supostamente equilibrado que te atende e por sinal é obrigado pela profissão a pagar seu próprio psicanalista. Então você aceita a classificação da homossexualidade como distúrbio, porque lá na Idade Média a Igreja criminalizava o sexo homossexual, o anal, o oral, a masturbação e qualquer outra prática sexual que não garanta a multiplicação de dizimistas. É a ciência mais uma vez perpetuando mitos, como por exemplo entre os séculos XVII e XVIII, quando vários livros médicos relacionavam a masturbação à epilepsia e tuberculose. Baseada em “estudos científicos”, a publicação “Onan - Tratado das Doenças Causadas pelo Onanismo”, do médico suíço Samuel Auguste Tissot, afirmava que a prática causava aumento da pressão sanguínea no crânio, deterioração do sistema nervoso e loucura. Hoje os padres são mais flexíveis quanto ao começo e meio, mas insistem no fim: é perversão toda relação que não termine em penetração vaginal, e sem camisinha por favor. Parece igualmente conveniente tachar de pervertidas as mulheres sexualmente livres. ‘Ninfomaníaca’ foi o rótulo criado pra esse tipo de mulher, e só pra mulher. E as obcecadas por limpeza, seria conveniente criar uma terminologia patológica pra elas também ou exaltá-las como possuidoras de grande virtude?

Outro distúrbio intrigante é a depressão. Todas as matérias sobre o assunto são vinculadas à imagem de uma mulher; ela se mata na dupla ou até tripla jornada, ganha menos que o colega de mesmo cargo e desempenho, inibe pulsões de vida em nome da reputação e da silhueta, leva chifre e apanha do marido, mas a culpa pela letargia e choro compulsivo é de um desbalanceamento químico cuja solução é um remedinho cheio de efeitos colaterais que a deixará ainda mais letárgica e suscetível a doses cada vez mais altas e caras. Um ciclo vicioso muito lucrativo pra indústria farmacêutica e seus cúmplices rabiscadores de receituário.

Aliás, de onde vem o interesse dos próprios psicólogos e psicanalistas pelos mistérios da psique? Não seria primordialmente uma tentativa de entenderem a si mesmos?

Exercício pra casa de hoje: pense nisso.

Aeon
Enviado por Aeon em 23/10/2016
Reeditado em 11/12/2016
Código do texto: T5801182
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