Personare 1: religiosa em ação
E a vida remexe e mexe na sua caixa de pandora ..., a fluidez a acompanha para fazer parte das surpresas à ela atribuídas...
Cá estava eu deitada na cama... mãos úmidas, olhar assustado, pernas trêmulas... Vejo tudo através da ponta da agulha, a seringa invade minha carne com seu líquido transparente! Anestesia local! Tempus regit actum! Tudo amortece! Vozes amortecidas pelas máscaras! Estou só! O silêncio finca seu sapato à la Luiz XV em mim! O bisturi elétrico corta a carne do meu peito. Cheiro característico de churrasco! Dei-me conta do fato: “eu sou o churrasco, ali!”.
Não consigo adormecer... pontos de luz correm pelas minhas artérias, agora, vibrantes!
“Coração Santo, Tu reinarás; do nosso encanto, sempre serás!”
Sentada no primeiro banco da catedral vislumbro uma parte do “Tudo” sem sair da terra!
“Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.”
Entre uma dezena e outra do terço um cântico inflama as dores do meu peito!
“Mãezinha do céu, eu não sei rezar; Eu só sei dizer: Quero te amar Azul é teu manto, branco é teu véu Mãezinha, eu quero te ver lá no céu.”
Nada me impedia de estar ali ajoelhada em oração, mesmo, sabendo que, meu corpo deitava entre lençóis brancos!
As vozes do médico e dos seus auxiliares não atrapalhavam minha celebração!
Noite pós-cirurgia Drº Dino faz sua visita. Sempre admirei sua postura profissional de ser comedido e falar o necessário, ou, responder as perguntas que gostaria de saber sobre a doença...
Naquele dia após seus comentários cirúrgicos, ele, saiu-me com esta:
“D. Ana Marly, a senhora com sua celebração religiosa abençoou todos os pacientes, médicos, enfermeiros... até, o último tijolinho deste hospital! A senhora manifestou uma religiosa repleta de fé durante toda a intervenção cirúrgica!”
“Drº tenho cá pra mim que a anestesia local me levou para o outro mundo! Outra pessoa me invadiu! Uma irmãzinha do Carmelo? Uma santa já beatificada? Ah! Não sei, não!”