CRÔNICA – As eleições municipais de 1962
 
 
CRÔNICA – As eleições municipais de 1962 – 22.10.2016
 
 
Ainda vivíamos diante do “coronelismo”, porquanto eram esses senhores sem patente que ditavam e comandavam a política brasileira, especialmente no nordeste. Limoeiro, cidade do agreste pernambucano, tinha a tutela do famoso coronel Chico Heráclio, senhor de muitas terras e gado na região. Na verdade, sua riqueza era exuberante, pois também possuía terra e gado lá pras bandas do sertão, se não me engano em Buíque ou Pedra de Buíque, no rumo de Arcoverde, em propriedades praticamente habitadas por bovinos “erados”, ou seja, animais já de idade avantajada, prontos para o abate, que engordavam ao sabor de muitas pastagens naturais. Naquele tempo não se usava plantar tanto capim como na época moderna. Melhor dizendo, o gado criava o homem. Falam até que era pra essa região longínqua que o respeitável fazendeiro mandava pessoas complicadas na justiça para se esconder durante um tempo, isso até que os ilícitos fossem esquecidos. No fundo, no fundo, o coronel era uma pessoa de bom coração.
            Nas eleições municipais daquele ano (o prefeito da época era o senhor Seráfico Ricardo da Silva – 1960/1963), e é bom que se diga que só era eleito o candidato apresentado pelo coronel Chico, que sabia na ponta da língua quantos votos obteria em cada urna. Raramente errava por um ou dois votos, sendo a sua precisão muito mais correta do que as que fazem os atuais institutos de pesquisas. Se duvidassem, poderia até dizer quem votara contrariamente ao seu escolhido. Eram favas contadas, mas dava pra notar que as oposições estavam crescendo a cada dia, até que veio a revolução de 1964, e daí em diante todos sabem o que aconteceu no país.
            Esse preâmbulo é uma introdução para narrar um fato público e notório. Havia um senhor respeitável, funcionário da Ford, que era o seiscentos diachos na oficina da empresa, homem que entendia de tudo, resolvia qualquer problema mecânico nos automóveis da marca (antigamente os veículos mais conhecidos eram da Chevrolet e da Ford). Era nada mais nada menos do que o senhor Branco, conhecido na cidade e em toda a região circunvizinha, um mago em matéria de automóvel.
            Já àquela época havia gente insatisfeita com a política brasileira, que sempre teve essa de beneficiar a casta dominante da sociedade. Havia os que inutilizavam seus votos, também os que votavam em branco, assim como as abstenções, que não são fatos novos nos dias de hoje, que nos dão a entender que o povo não mais deseja que o voto continue sendo obrigatório, pensamento com o qual comungo em gênero, número e grau.
            O nome “Branco” foi sendo disseminado no seio da comunidade limoeirense, de sorte que quando uma pessoa era consultada em quem iria votar, normalmente dizia: “Acho que vou votar em branco”, e isso foi criando corpo, engrossando a fileira dos insatisfeitos. E a cidade foi tomada pela coqueluche do momento. Logo o povo pensava que o branco, ato de não votar em ninguém, se tratava do Branco, emblemático mecânico, notadamente os habitantes que vinham de fora. “Puxa, esse Branco está praticamente eleito, diziam todos”.
            Na verdade, o candidato do coronel, senhor Adauto Heráclio Duarte, abiscoitou a prefeitura com boa margem, enquanto que os votos em branco suplantaram as expectativas dos mais experimentados políticos da “Princesa do Capibaribe”, apelido bem conhecido da cidade de Limoeiro.
            Vale dizer que em muito colaborou com a mudança política da cidade um jovem oposicionista, doutor Maurílio Ferreira Lima, homem do antigo MDB, que tinha a palavra fácil e abalizada, seus discursos prendiam a todos sem exceção. Não me recordo se ele conseguiu ser prefeito da cidade, mas que fora deputado federal por quatro legislaturas, assim como cassado em 1968, tendo passado dez anos como asilado na Argélia, e suplente de senador disso tenho certeza. Hoje, já idoso, continua na política, sem ser candidato, todavia de vez em quando escreve para um periódico local e faz crônicas para uma emissora de rádio, a Jornal do Comercio que, por sinal, tem retransmissora de longa data em Limoeiro.
Ansilgus
Fonte da foto: INTERNET/GOOGLE
ansilgus
Enviado por ansilgus em 22/10/2016
Reeditado em 22/10/2016
Código do texto: T5799884
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