E AS ÁGUAS DEIXARAM PASSAR ...

E as águas se abriram para o homem passar. Não como um milagre de Deus, mas como um milagre da engenharia. E assim foi ...

Uma caminhada por entre as águas? É a passagem de navios que carregam pessoas e mercadorias. As pessoas caminham, mas não sobre as águas e sim nos decks dos navios, das lanchas, de um lado para outro, observando avidamente o avanço lento e cuidadoso dos imensos transportadores no espaço exíguo do Canal do Panamá.

As águas do Atlântico e do Pacífico devem estar em pleno acordo para enviar e receber as embarcações que trazem curiosidade, sonhos, desejos, troca, lucro, comercialidade, porque trazem pessoas. Curiosidade dos turistas, dos visitantes que anseiam por conhecer aquela obra engenhosa, cuja construção foi iniciada no século dezenove e inaugurada no início do século vinte. Curiosidade por atravessar o Canal, vivenciando todo o processo de nivelamento das águas pelas eclusas. Fecha atrás, enclausura a água, abre à frente para escoar e nivelar. E assim se repete, até que seja alcançado o nível das águas do Pacífico.

Sonhos dos homens e mulheres que querem conhecer um local, uma cidade, uma sociedade, uma cultura. Querem conhecer o que é desconhecido aos olhos, mas já lido, já sabido. Querem apreciar uma das sete maravilhas do mundo moderno. Querem testemunhar o movimento das águas que se desloca de um lado para outro enchendo os caminhos dos navios. Movimento diferente das ondas do mar, tão conhecido de todos esses espectadores.

Desejos desses mesmos homens e mulheres que anseiam por adquirir novos produtos sejam eles para enfeitarem-se, para enfeitar lares, para distração, para o que mais cada um cobiça e que lotam os decks e os porões dos cargueiros.

Troca de itens produzidos pelos países, que se transforma em comércio, que leva ao lucro. O comércio internacional, que além da ambição que orienta a tantos, provocando eventos desoladores pelo mundo afora, pode também trazer benefícios, preenchendo falhas de produtividade dos países, de limitações de industrialização, de necessidades de todos os tipos. Os países não são autossuficientes. Daí a necessidade da troca, do comércio, cujos ganhos não precisam, obrigatoriamente, serem exacerbados.

Esta dinâmica é característica do ser humano. Aprovada ou reprovada, ela se mantém, se desdobra e impera no mundo afora. O comércio, a comercialidade, a troca. Justa ou injusta.

Tereza Freire
Enviado por Tereza Freire em 20/10/2016
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