A lágrima...chorar é lindo!
1. Dia desses fui oculista. Incomodava-me uma lacrimação excessiva, denunciando-me um cara chorão, o que, de fato eu sou. Não tenho vergonha de chorar. Concordo com Charles Dikens que, enfático, afirmou: "Nunca nos devemos envergonhar das nossas lágrimas".
2. O doutor aplicou aquele colírio que lhe facilita passear pelos lugares mais distantes e escondidos de cada olho; e me mandou ler as letrinhas impressas no painel luminoso posto à minha frente. Li todas e sem titubear.
3. Surpreso, o douto esculápio (Arre!) perguntou-me: "Afinal, o que fez o meu distinto coroa procurar o meu consultório, pagando consulta tão cara?"
4. Curioso, indaguei-lhe: e as lágrimas, doutor? Por que elas umedecem meus olhos impedindo-me de fazer o que mais gosto, que é ler? E enumerei os livros que estavam à minha espera, deixando-o abismado com o meu apetite pela leitura.
5. Ele, então, explicou o motivo do inesgotável lacrimejar, explicação que levei alguns minutos para entender; em seguida, prescreveu uma receita, que tive muita dificuldade de ler. Lembrei-me de um tal de Jean-François Champollion, o homem dos hieroglifos.
6. O farmaceutico, craque em traduzir receitas médicas, descobriu, sem pestanejar, o nome do colírio receitado pelo meu oftalmologista; ou com se dizia no tempo de minha avó Chiquinha, pelo meu oculista.
7. Já fiz várias aplicações exatamente como o doutor mandara: duas gotinhas em cada olho; na esperança de que as lágrimas logo deixariam de rolar na minha face vincada, prova inequívoca de que a idade avança de maneira inexorável!
8. Por falar em lágrimas, quero declarar que sempre tive por elas o maior respeito: pelas minhas e pelas dos outros. A ponto de vendo-as descer na cara de um desconhecido, sentir, também com olhos marejados, o seu instante de tristeza ou o seu momento de alegria.
9. Uma das mulheres que encontrei na vida, e pela qual me apaixonei, derramava copiosas lágrimas por tudo e por nada!
De repente esfregava os pequenos olhos e os enxugava, discretamente, com lencinhos perfumados que trazia na bolsa, a tiracolo, sufocando-lhe os belos seios e seu doce coração.
10. Constrangia-me vê-la chorar.
E ela: "Morro de vergonha!"
Tarefa difícil era convencê-la de que chorar não é feio.
11. E que pensadores, escritores, cronistas e poetas tinham, ao longo dos séculos, valorizado a lágrima, definindo-a em frases ternas e inspiradas.
Citei Khalil Gibran para quem "as lágrimas são as últimas palavras quando o coração perde a voz". E Mário Quintana que tem um bonito poema intitulado "Chorar é Lindo".
12. Uma noite, encontrando-a pensativa e com "os olhos rasos d'água", quis saber o que a levava àquele estado de fartas lágrimas... E ela: "Meu passado me machuca!..." Procurei consolá-la, citando esta frase do poeta grego Eurípedes (Século V a.C.): "Não desperdice lágrimas novas em tristezas antigas!" Ela me ouvi em silêncio... e continuou chorando.
É mesmo "misterioso o país das lágrimas", disse-o Antoine de Saint-Exupéry.
1. Dia desses fui oculista. Incomodava-me uma lacrimação excessiva, denunciando-me um cara chorão, o que, de fato eu sou. Não tenho vergonha de chorar. Concordo com Charles Dikens que, enfático, afirmou: "Nunca nos devemos envergonhar das nossas lágrimas".
2. O doutor aplicou aquele colírio que lhe facilita passear pelos lugares mais distantes e escondidos de cada olho; e me mandou ler as letrinhas impressas no painel luminoso posto à minha frente. Li todas e sem titubear.
3. Surpreso, o douto esculápio (Arre!) perguntou-me: "Afinal, o que fez o meu distinto coroa procurar o meu consultório, pagando consulta tão cara?"
4. Curioso, indaguei-lhe: e as lágrimas, doutor? Por que elas umedecem meus olhos impedindo-me de fazer o que mais gosto, que é ler? E enumerei os livros que estavam à minha espera, deixando-o abismado com o meu apetite pela leitura.
5. Ele, então, explicou o motivo do inesgotável lacrimejar, explicação que levei alguns minutos para entender; em seguida, prescreveu uma receita, que tive muita dificuldade de ler. Lembrei-me de um tal de Jean-François Champollion, o homem dos hieroglifos.
6. O farmaceutico, craque em traduzir receitas médicas, descobriu, sem pestanejar, o nome do colírio receitado pelo meu oftalmologista; ou com se dizia no tempo de minha avó Chiquinha, pelo meu oculista.
7. Já fiz várias aplicações exatamente como o doutor mandara: duas gotinhas em cada olho; na esperança de que as lágrimas logo deixariam de rolar na minha face vincada, prova inequívoca de que a idade avança de maneira inexorável!
8. Por falar em lágrimas, quero declarar que sempre tive por elas o maior respeito: pelas minhas e pelas dos outros. A ponto de vendo-as descer na cara de um desconhecido, sentir, também com olhos marejados, o seu instante de tristeza ou o seu momento de alegria.
9. Uma das mulheres que encontrei na vida, e pela qual me apaixonei, derramava copiosas lágrimas por tudo e por nada!
De repente esfregava os pequenos olhos e os enxugava, discretamente, com lencinhos perfumados que trazia na bolsa, a tiracolo, sufocando-lhe os belos seios e seu doce coração.
10. Constrangia-me vê-la chorar.
E ela: "Morro de vergonha!"
Tarefa difícil era convencê-la de que chorar não é feio.
11. E que pensadores, escritores, cronistas e poetas tinham, ao longo dos séculos, valorizado a lágrima, definindo-a em frases ternas e inspiradas.
Citei Khalil Gibran para quem "as lágrimas são as últimas palavras quando o coração perde a voz". E Mário Quintana que tem um bonito poema intitulado "Chorar é Lindo".
12. Uma noite, encontrando-a pensativa e com "os olhos rasos d'água", quis saber o que a levava àquele estado de fartas lágrimas... E ela: "Meu passado me machuca!..." Procurei consolá-la, citando esta frase do poeta grego Eurípedes (Século V a.C.): "Não desperdice lágrimas novas em tristezas antigas!" Ela me ouvi em silêncio... e continuou chorando.
É mesmo "misterioso o país das lágrimas", disse-o Antoine de Saint-Exupéry.