Primeira semana

O que sobra depois a gente pouco compreende, muito menos arrisco a dar um nome, é aquela coisa que fica após o que se viveu quando deixou que outra vida se envolvesse a sua, tenho vivido isso, alguns com mais experiência me disseram que os primeiros trinta dias de convivência com essa coisa (que não nomeio por achar que nem digna de nome é) são os mais difíceis, depois a gente acostuma e esquece o que aconteceu, porém, a gente só acostuma mesmo, esquecer talvez seja um sonho utópico agora. Outros me indicaram beber, e eu bebi, não que eu pensasse que apagaria tudo de uma hora para outra, mas acreditei que gradualmente sim, apagaria, e o que eu estava bebendo me trazia o primeiro porre, no qual eu queria apenas voltar para o que era antes dessa "coisa" pensei em fazer ligações escandalosas, enviar mensagens de textos com palavras ilegíveis, formando frases deturpadas que naquele momento me faziam todo sentido, mas esquecer e acostumar não me foi proporcionado com o álcool. Fiz uma promessa também, ingênua, de não voltar a me apaixonar nunca mais, e não deixar que aproximasse de mim qualquer ameaça que afrontasse minha promessa que não duraria muito para falhar, pensei um pouco mais e comecei a substituir essa vaga promessa com frases como: "Vai passar", "Depois virá outro ciclo" e a pensar muito em frases de efeito, e em decorá-las em algum momento oportuno. Enquanto você está dentro dessa coisa que resta depois, em nada te ajudará ficar olhando fotos da pessoa, farei meu drama dizendo (a pessoa que te largou, te empurrando para esse martírio) muito menos ficar stalkeando para saber o que ela anda fazendo com aquele pensamento "Espero que as coisas deem errado para você". Reli muito Caio Fernando, com afinco e esperança, me refugiando em "Pequenas Epifanias", e por que não "Inventário do Ir-remediável"? Assim como também reli aquela última conversa, não mais que trezentas vezes, para abrir espaço a uma única finalidade, que foi ter decorado tudo para então contar aos amigos o que havia acontecido desejando ouvir palavras amenizadoras como: "A culpa não foi sua, foram as circunstâncias" ou "É assim mesmo, mas passará, basta paciência" mas não cheguei a ouvir bem isso, apenas conselhos que eu sabia que não seguiria depois. Sim, fui conhecer novas pessoas, não cheguei a baixar o tinder, de novo, esse vazio não é preenchido assim, aprendi isso da última vez em que estive mergulhando nessa coisa. Ahh, e não fui parar no facebook mandando indiretas, e nem querendo demonstrar que estou por cima, quem está nesses trinta dias da coisa, nunca estará por cima, a não ser que não estejamos falando do mesmo sentimento. Passei trinta músicas para meu telefone, animadas, para levantar astral, deixei as trinta sem ouvir, para repetir a única que não havia apagado (Mentiras - Adriana Calcanhotto) desde então tenho ouvido só ela. Assisti de novo 500 days of summer, para tentar pegar as lições do filme para a vida, assemelhando ao que eu tinha vivido, no final só fiz drama de que o amor não era para mim, e me convenci que na vida real eu era o Tom. Tentei evitar tudo que me lembrava a pessoa, músicas, filmes, séries, lugares, em busca do esquecimento, para depois atrapalhar tudo ouvindo áudios antigos e olhando fotos guardadas, agradeci pela distância na primeira oportunidade, pelo menos sabia que não iria te ver, odiei a distância logo em seguida. Na primeira uma hora que seguiu eu quis esquecer tudo, seu rosto, suas histórias, meu rosto, minhas histórias, nossas conversas, principalmente o que eu havia dito, eu quis correr de mim, quis não chorar, algumas coisas são involuntárias, eu soube depois, quis que você voltasse atrás no mesmo instante que partiu... Ah, estive apaixonada esses dias, e ainda estou, porém, presa no processo que se inicia depois que se interrompe a história toda, dando boas-vindas aos seus efeitos colaterais. Termino de escrever esse texto colocando aqui esse parágrafo que seria o seu início, quando vi que ficaria sem final, por não saber finalizar nada, e porque no estado em que me encontro odeio finais, quero apenas me prender a começos.

Anny Ferraz
Enviado por Anny Ferraz em 20/10/2016
Código do texto: T5797480
Classificação de conteúdo: seguro