SINA INFELIZ
Senti um frio na espinha, uma coisa esquisita, sensação de dó e impotência ao ver aquela vítima estendida ali, bastante machucada, o corpo ainda dava sinal de vida debatendo-se, mas não havia muito que o que fazer. Condenada a morrer, a infeliz não poderia ter pior sorte, se pudesse, quem sabe, tivesse desejado “em vida” uma morte súbita, menos penosa, sem sofrimento, se fosse possível evitar algo assim.
Os carros desviavam evitando o atropelamento. Era apenas mais uma vítima no perigoso cruzamento de vias. Parando um pouco a frente desci do carro, e ao me aproximar, repentinamente, vários pneus, numa fila dupla me impediram os passos fechando minha visão. Após a passagem da carreta me aproximei do que sobrou no chão.
Tento esquecer a lamentável cena. O que restara sobre o asfalto quente lembrava um pedaço de papelão de cores fortes, aberto no meio da rua, e bem próximo na calçada, uma criança segurada firmemente pela mãe gritava desesperada, pela triste sina do querido gatinho, seu animalzinho de estimação.