Convivo com algumas doenças auto-imunes: artrite reumatoide, Sjogren, hipotiroidismo, fibromialgia  e elas trouxeram comorbidades e agregaram duas inflamações que estão me dando trabalho como a sacroileíte e costocondrite. A última insiste em doer terrivelmente e dificultar a respiração há uns quatro meses piorando o cansaço. Com estas bagagens será que  vou conseguir fazer  um curso de meditação foi o primeiro questionamento, e se a  dor piorar após ficar tanto tempo sentada, como serei recebida em uma turma de não pacientes crônicos?  E a lista de boicote automaticamente fervilhou em descorforto crescente. 

Um bom facilitador não convence, não promete a cura e a solução para a dor, ele simplesmente faz um convite para experimentar e aguça a curiosidade. Sim, sou reticente mas no fundo quero uma ferramenta para me ajudar a enfrentar esta batalha diária, e embarquei neste Workshop de Mindfulness por 8 semanas para trabalhar minhas expectativas, libertar as angustias do passado que martelam minhas mémorias presentes, tentar ficar mais focada no presente porque ando muito esquecida, desatenta e angustiada com o que o meu futuro. Já coloquei prótese na coluna e tenho artrose no quadril e joelho, e não sei quanto tempo terei até outra cirurgia. Já fiz tantas cirurgias e as doresdo pós cirúrgico sempre me assombram.  

E Mindfulness não é apenas uma meditação, a técnica propõe algo novo no meu universo doloroso, prestar atenção e testar um novo olhar, com curiosidade e sem julgamentos. Sem expectativas. 
As práticas exigem disciplina, são confortáveis mas eu precisei aprender a focar em algo além do meu universo limitante de pensamentos negativos, repetitivos e sufocantes.
A coisa começa com um porque eu? Eu tinha uma vida ótima, eu estou sofrendo um castigo, é meu karma e tenho que passar, eu estou pagando por erros do passado, de outras vidas, vou redimir meus pecados...e outros piores são os que chamo de bolas de ferro.
Além da dor no dia a dia eu arrastava uma bola de ferro no pé  pesada, imensa  por  tanto arrependimento, frustrações, ódios, stress e  que que alimentavam o stress, ansiedade, mágoas e tristezas.
Não dá para viver assim, estava muito cansada, meu corpo todo dolorido, minha mente infestada de dor, tudo era dor. Girava em torno da dor. Eu virei uma dor ambulante. E eu odiava a dor. 

 A prática me ensinou a aceitar a dor, a fazer as pazes com uma condição que existe e vou ter que conviver. O que posso aprender com essa dor? o que ela está sinalizando? o que ela quer de mim? 
Parece loucura e no início achei engraçado e  pensei: que esta cretina quer? - me destruir, acabar com meus sonhos, perturbar minha vida que era tão perfeitinha, ela é meu pior pesadelo.
Não é verdade que ela está presente 24 horas no meu  dia, há  momentos em que ela está mais leve e até imperceptível. O que eu faço nestes instantes mágicos é que determinam as consequencias.
Quando percebo que melhorei um pouquinho  vou fazer compras, lavar banheiro, arrumar a casa, fazer o que fazia antes com a maior facilidade. Só que no meio da atividade ou no final, ela volta e as vezes mais forte.
Então percebi que neste ciclo não estou respeitando meus limites, não sou generosa comigo mesma, não escuto meu corpo, apenas quero fazer tudo e me superar. Quero vencer a dor. E a prática me ajuda a parar, sentir e observar se tenho condições de prosseguir. Sem pressa ou falsas expectativas. 
Simplesmente porque no momento eu  sou um lobo rodando em círculos, melhoro, abuso e pioro. 
A dor quase sempre chega de mansinho alertando, na euforia eu não dou a mínima para ela e  continuo, insisto e ela aumenta mais um pouquinho. Teimosa continuo na atividade cansativa, a dor aumenta mais um pouco e eu prossigo, dizendo que está tudo bem e logo  vou terminar. Mas ela volta mais forte, já não pega um lugar mas vários, e ela me irrita. Já com raiva de mim mesma porque sei que não estou fazendo meu melhor, sinto que ela volta com tudo e então eu sou obrigada da parar.
Completamente desequilibrada pela dor extrema vou pegar meus remédios, engulo o primeiro, o segundo, o terceiro e vou deitar exausta. Neste momento além da dor estou submersa em  emoções e pensamentos terríveis, destrutivos, depressivos e inúteis.

Se eu tivesse tido a coragem de ter parado no primeiro sinal, apenas adiado um pouco para tomar um ar, beber uma agua e me refazer talvez tivesse feito a tarefa com calma e tudo teria terminado bem. Quem sabe dividir  em duas partes a arrumação da casa, qual o problema em fazer pausas, ir ao mercado e comprar o que consigo carregar? O amanhã vai estar lá de qualquer forma.

Isso é Mindfulness para mim, generosidade com minha dor e limitações, entender a minha dor e fazer as pazes com meu corpo inchado por corticóides e outros remédios. A dor não é um castigo mas um aviso, ela é uma aliada que está sinalizando que algo não vai bem. Ela não é mais uma inimiga. Fizemos as pazes e nos respeitamos.


https://youtu.be/va7fstz1FxI
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 20/10/2016
Reeditado em 01/02/2017
Código do texto: T5797398
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