Herculano Cândido de Mello e Souza (1881 - 1883)





 
            Natural de Cássia, Minas Gerais, Herculano Cândido de Mello e Souza era filho do coronel João Cândido de Mello e Souza, o Barão de Cambuí, e da senhora Matilde de Mello e Souza. Fazendeiro abastado e generoso para com os mais pobres, o também coronel Herculano foi defensor do abolicionismo, divergindo das orientações do Partido Conservador, ao qual era filiado. Exerceu influência política na cidade, ocupando por dois períodos letivos a presidência da câmara municipal e agente municipal (prefeito), mas não chegou a exercer cargo eletivo junto à assembleia provincial. Como agente municipal de São Sebastião do Paraíso, uma de suas obras, por ocasião de primeira administração, no período 8 de fevereiro de 1881 a 7 de janeiro de 1883, foi a construção do primeiro matadouro público municipal, uma exigência da época para tentar melhor a qualidade da carne consumida na cidade. Solicitou auxílio ao governo provincial para socorrer a pobreza da cidade e terminou o seu mandato com déficit orçamentário.

            Nos idos de 1854, O Barão de Cambuí exercia mandato de vereador em Cássia e estava entre os maiores criadores de gado do Sul de Minas, em condições de fornecer 200 reses anuais para o mercado consumidor do Rio de Janeiro, praça na qual um dos principais negociantes e distribuidor de carnes verdes era o senhor Francisco José de Mello e Souza. De certo modo, os eventos políticos dos momentos protagonizados por membros da grande família Mello e Souza pertencem ao Ciclo do Gado, que antecede o início da implantação das primeiras grandes fazendas de café da região. Alguns anos depois, em 1862, João Cândido de Mello e Souza e Jerônimo Pereira de Mello e Souza, agraciado com o título de Primeiro Barão de Passos, constituem o corpo de oficiais do comando superior da Guarda Nacional de Passos, como consta na imprensa nacional.

            Herculano Cândido de Mello e Souza tinha patente da Guarda Nacional, defendia os ideais abolicionistas compartilhados pelo cônego Tomaz de Affonseca e Silva, 5º vigário de Paraíso, que exerceu uma presença marcante no desenvolvimento histórico da cidade, foi fundador de São Tomás de Aquino e benemérito de outras cidades da região. Por ocasião da abolição da escravidão, quando foi assinada a lei áurea de 1888, o cônego Thomaz de Affonseca promoveu, com apoio do coronel Herculano e de outros abolicionistas da cidade, grandes festividades para marcar a importante data cívica.

            O Almanaque Administrativo, Civil e Industrial da Província de Minas Gerais para o ano de 1869 permite identificar nomes de oficiais do Comando Superior da Guarda Nacional de Jacuí que, nos anos seguintes, exerceriam posições importantes na história social e política de São Sebastião do Paraíso e de outras cidades do sudoeste mineiro.

            No expediente da secretaria do governo provincial de Minas Gerais, do mês de setembro de 1880, consta ofício assinado pelo chefe de polícia à pedido do delegado de polícia de São Sebastião do Paraíso e dirigido ao diretor geral de obras públicas, comunicando que o cidadão Herculano Cândido de Mello e Souza, fazendeiro residente na freguesia da cidade, estava cuidando, como gesto de patriotismo e colaboração, dos consertos necessários no prédio da cadeia pública que se encontra em péssimo estado de conservação, sob risco de cair uma parte do velho prédio.

            Com a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o partido conservador, ao qual o coronel Herculano estava vinculado, foi perdendo espaço político, com a consequente ascensão do Partido Republicano Mineiro, legenda que dividiria com o Partido Republicano Paulista, a hegemonia política, quase absoluta, até o movimento revolucionário getulista de 1930. Proprietário de uma fazenda localizada nas proximidades da atual Vila João 23, nos fundos da Santa Casa de Paraíso, ficou no imaginário coletivo local que o coronel Herculano concedeu que famílias descendentes de escravos recém libertos, construíssem suas casas numa parte desse terreno. Nesse local residiam membros de um dos mais tradicionais termos de congada da cidade.