NA CAIXA D'ÁGUA
O texto a seguir é continuação do anterior e foi extraído de “Crônicas da Vida Inteira”, livro inédito sobre fatos da minha vida, adaptado para o Recanto das Letras.
NA CAIXA D’ÁGUA
Foi brabo passar o verão em Corupá, naquele pé-de-serra. Até a água do rio era quente. O que é que eu fazia então: enquanto os colegas iam pra beira do rio, pescar e rezar, eu me mandava lá pra cima do morro próximo, onde meses antes tinha sido construída em alvenaria uma enorme caixa d’água subterrânea coberta com laje de concreto. Já recebia água, mas ainda não estava plenamente em uso no seminário, pois a tubulação chegava somente até embaixo do morro, onde ficavam os currais.
Era uma verdadeira piscina. Devia ter uns quinze metros de comprido, cinco ou seis de largura e um e meio ou mais de fundura. Chegando lá, eu retirava a tampa dos dois respiros na laje de cobertura e me enfiava lá pra dentro a nadar horas inteiras. Que gostosura! A água ali era fresquinha como nas cachoeiras. Ah se os colegas descobrissem!... Mas nunca ficaram sabendo não.
Não foi, porém, só safadeza que eu fiz não. A minha parte na divisão das tarefas diárias eu executava certinho. Com a aproximação do Natal, me esmerei na montagem do presépio. Cheguei até a receber elogios dos colegas. Ficou bem bonito mesmo. Ensaiamos inclusive uma missa cantada que ainda hoje eu canto sozinho nos momentos de maior inspiração. Toda a missa fora composta na melodia natalina do adeste fideles. Não sei não, mas eu acho que foi composta pelo Zezinho. Que Zezinho? O José Fernandes, que depois virou padre cantor, famoso pelo Brasil inteiro e até pelo Exterior, por suas canções e seus discos. É, sim senhor! Pensa que a nossa turma era só de brincadeiras, é!? Deu até um bispo – o Carmo Rohden – um dos oito gaúchos, que estudou Filosofia e Teologia em Roma e que, depois de padre, virou bispo de Taubaté, no Estado de São Paulo.
— Bah, tchê! — como exclamam os conterrâneos dele.
Convite: Se você gostou desta minha crônica, do meu estilo de narração, leia as anteriores, mas em ordem cronológica, começando pelas primeiras que foram postadas.