DOUTOR HONORIS CAUSA
No escritório de advocacia, localizado num moderno edifício comercial, um homem simples de sotaque nordestino procura por um advogado:
_ Quero falar com o “Seu Ciço"!
_ Doutor Cícero! Faça o favor!
É repreendido severamente pela secretária, o idoso constrangido, sem palavras, apenas olha para a moça atônito.
Incomodada com a cena, uma Senhora se levanta, falando alto:
_ Tenha mais respeito por este trabalhador! Seja educada! Com certeza seu patrão não aprovaria esse seu atendimento! Ele não tem obrigação de chamar ninguém de “doutor” pelo que sei é apenas um bacharel em advocacia, além disso, é um recém formado!
A funcionária insiste:
_ Mas ele nunca veio aqui, Jamais vi esse moço!
_ Mesmo assim, ele é um cliente em potencial, se veio até aqui, é porque precisa de um defensor. Pessoas assim, que ralam a vida toda na roça, trabalham duro para o sustento de suas famílias com dignidade, estas sim, merecem ser tratadas como doutores!
_ Vou agendar um horário para ele.
A recepcionista tenta conter o caso.
Mas a mulher, frente à pequena plateia presente na sala, sentindo-se dona da situação, expande seus momentos de glória ressaltando o discurso:
_ Suas mãos calejadas demonstram a árdua rotina em que vive de sol a sol, a cor de sua pele, revela a dureza dos longos dias de trabalho do campo. Gente assim, é quem garante os alimentos do povo da cidade, seja um operário ou um magistrado, todos, sem exceção dependem do seu labor. Sua experiência de vida, coisa que não se aprende em nenhuma universidade daria para escrever vários livros de ensinamentos.
De súbito uma voz forte invade o ambiente:
_ Posso saber o que é que está acontecendo aqui? Que bate-boca é esse?
Uma vez na sala, o jovem causídico muda de expressão ao deparar se com a presença daquele Senhor. Alegremente vai ao seu encontro, dizendo:
_ Bem vindo ao meu escritório, abraça-o, e com afeto apresenta:
_ Este é “Seu” Honório! Meu pai!