O Pastor

Olhava-se no espelho. O tempo passara. Estava viúvo há cinco anos. Chorara muito com deus. 

"Não entendo! Não entendo! Não entendo!"

Aceita-se a morte da humanidade, mas nunca dos seus. Dos próximos de nós. Dos que nos fazem sentido. O destino só tem lógica com os seus vivos e se esses morrem desconstruindo o destino, tem-se duas soluções: negar o destino ou reler o destino. Ele negara.

"Não entendo! Não entendo! Não entendo!"

Era como se a verdade estivesse atrelada a ela, a mulher dele. Porque seu destino só tinha sentido se ela vivesse com ele. Se morresse deveria ser uma morte grandiosa e não daquele jeito. Daquele jeito morre a humanidade e não a mulher do pastor.

- É a vontade de deus...

Já não suportava mais suas ovelhas tentando serem santas. Tentando reler o destino dele e dela.

"Não entendo! Não entendo! Não entendo!"

Eles não sabiam nada da vida dele e dela. Tudo que eles sabiam era o que ele e ela tinham ensinado para eles.

"Tolos! Não são dignos de desatar suas sandálias!"

Estava cansado de manter tanta gente na cegueira do destino que ele inventara, que ele negara. Mentira que o sustentou, ele e ela, seus filhos, um nos Estados Unidos e outro na Alemanha. Era preciso fazer alguma coisa a esses idiotas.

"Não entendo! Não entendo! Não entendo!"

Sacou da gaveta, da cômoda de seu quarto, um .38. Um .38 longo que ganhara de um idiota qualquer. Deu fim ao destino de todos.


 
Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 14/10/2016
Reeditado em 14/10/2016
Código do texto: T5791849
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