Velha Solidão
Tenho me deparado com uma triste realidade ultimamente. Já faz um tempo que tem sido constante em minhas leituras notícias sobre a solidão dos idosos. Falando assim nem parece grande coisa, mas as notícias que tenho lido são de uma tristeza angustiante, principalmente para alguém sensível como eu.
Fato 1: Um casal de idosos saem às ruas gritando desesperados. Os vizinhos, sem entender, chamam a polícia para ajudá-los. Quando os policiais chegam ao local, constatam que o desespero dos velhinhos se deu por perceberem o tamanho da solidão de que partilhavam. Como os policiais ajudaram? Prepararam o almoço e fizeram companhia para o casal. (Percebe que nenhum vizinho se aproximou?)
Fato 2: Uma senhora liga para um serviço de conversa, toda animada, contando que estava muito feliz por que a primavera chegou e também por ter completado por esses dias 81 anos. A atendente também se anima e pergunta como ela comemorou essa data tão festiva. Foi então que a senhora notou que havia passado seu aniversário sozinha. E mais, aquela atendente era a primeira pessoa com quem conversava há semanas.
Fato 3: Uma idosa frequenta um centro de convivência para idosos em alguns dias da semana no período da manhã. É uma atividade da qual ela gosta muito, e espera ansiosamente. Mas quando volta para casa, quem a espera de braços abertos é a solidão. O período da tarde, e os dias que não tem atividade no centro de convivência, são preenchidos com uma prática que ela desenvolveu para se ocupar e, segundo ela, não enlouquecer. Essas horas vagas são preenchidas picando folhetos de propaganda de supermercado, primeiro em tiras, depois em pedacinhos miúdos. Junta tudo numa sacola, que vai ao lixo mais tarde.
Como esses, há muitos outros fatos que narram o tamanho da solidão dos idosos. Muitas vezes, são esquecidos num canto, como um trapo velho que não tem serventia. São abanados pela família, que apenas os visitam vez ou outra. Na melhor das hipóteses, são jogados em asilos (digo melhor, porque ao menos lá terão com quem conversar).
Vivemos em uma sociedade baseada no descartável: não serve mais, joga fora; saiu de linha, troca. As coisas tem perdido o valor, e muitas vezes essa prática se estende também para as pessoas. No caso dos idosos, são abandonados por seus familiares, que julgam que estes não tem nada a oferecer.
Tudo o que foi vivido, todas as experiências, tudo o que se produziu ao longo da vida, durante seu trabalho (seja ele qual foi), não serve mais, é obsoleto, está ultrapassado. Todas as histórias ficam perdidas, já que não há quem as ouça.
Conheço uma pessoa há muito tempo e que sempre me disse que tem medo de envelhecer. Achei, a princípio, que fosse por vaidade, mas descobri que seu medo é de ser abandonado e esquecido num canto como um trapo qualquer.
Ah, se aprendêssemos a cuidar dos nossos velhos como eles merecem, como deveríamos cuidar... Dar atenção, dar ouvidos, dar companhia... Tantos erros que se repetem nas famílias há gerações, seriam contornados se os conselhos dos velhos fossem ouvidos.
Esquecemos que um dia também envelheceremos, isto é, se tivermos sorte. Um dia precisaremos do cuidado e atenção que negamos hoje. Um dia teremos tempo demais para pensar e lembrar, e ninguém com tempo para nos ouvir.