Casa de Deus
Era um dia qualquer. Os carros estavam ali, as pessoas também. Eu, como sempre, apressava cordialmente as passadas, tentando otimizar o tempo. Mas pera aí, por que eu estava quase correndo? Eu estava voltando pra casa, não estava atrasada como de costume e o sol ainda estava ali, refutando a idéia de que o tempo não estava fugindo de mim. Olhei para os lados, o sinal abriu. Caminhei lentamente na faixa de pedestres tentando satirizar meu próprio transtorno, quando avistei uma casinha singela, com uma iluminação fraca e quase ineficaz. Era uma igrejinha. A igreja que eu apreciava todos os dias que passava por ali. Eu sempre carreguei comigo o desejo de entrar, mas as situações corriqueiras não coadunavam com tal escolha. Mas naquele dia tudo cooperava para uma visita. Entrei e sentei na ultima cadeira, da ultima fileira. Haviam oito pessoas presentes nas inumeras fileiras, contando comigo. Um senhor que estava mais próximo de mim, virou-se lentamente para observar-me e cumprimentou-me com entusiasmo. Fazia anos que eu não via alguém celebrar tanto minha chegada. Sorri, corando, e agradeci as boas vindas. Não era difícil notar que as pessoas ali eram bastante humildes e isso despiu-me de toda ignorância relacionada a preocupação com minha aparência. Fechei os olhos e me senti no meu próprio quarto. Talvez a analogia tenha sido mesquinha, levando em conta o fato de eu estar na casa de Deus. Mas aquele momento conseguiu completar-me de modo holístico. Abri os olhos quando uma voz surgiu nas caixas de som ao meu lado: alguem ensaiava uma canção. Eu não conhecia, mas parecia um tanto agradável. Não nego que fiquei atenta quando uma senhorinha passou no momento do ofertorio, recolhendo algumas moedinhas dos mais variados tamanhos. Fiquei pensando em como eles conseguiam manter a obra funcionando e a pergunta mostrou-se retórica quando eu parei pra analisar minuciosamente a estrutura daquele ambiente. Algumas flores adornavam o púlpito, que era coberto com um pano vermelho de baixa qualidade. A simplicidade daquele lugar fez meus olhos queimarem de empatia e admiração. A vida estava boa? Não muito. As relações interpessoais? Também. E o psicológico? Um pouco abalado. Mas aquela ocasião permitiu que eu lembrasse que pequenas atitudes possuiam a capacidade de suprimir todas as dificuldades. Uma delas era entrar ali, mesmo sem tempo, um pouco retraída; escolher a cadeira mais afastada de tudo e ir visitar meu melhor amigo.