LÁGRIMAS

Podemos fazer várias leituras sobre a lágrima.

Fisiologicamente, as lágrimas servem para lubrificar e proteger os olhos contra as agressões do meio ambiente sobre as córneas e pálpebras.

Servem também para umidificar a mucosa do nariz e, consequentemente o ar que respiramos, além de facilitar a adesão de partículas em suspensão aos cílios nasais, para a produção das melecas que são a principal distração dos motoristas enquanto eles, no trânsito, esperam o semáforo abrir.

Se você acha que eu estou exagerando, na próxima vez em que estiver parado no semáforo, observe o motorista parado ao seu lado.

Servem também como pano de fundo quando os sentimentos são fartamente revelados nos primeiros anos de vida ou contidos, principalmente, na fase adulta do ser humano.

Existem pessoas que, no exercício de interpretação artística, são capazes de chorar copiosamente quando o personagem exige.

Também existem aquelas que se utilizam das lágrimas para manipular as situações.

Em âmbito familiar ou público esses verdadeiros artistas são capazes de esconder a verdadeira versão dos fatos, porque o choro é geralmente entendido como momento de fragilidade emocional e tem o dom de despertar no semelhante o instinto de proteção do próximo e em última análise o da preservação da espécie, fazendo com que a maioria da plateia se compadeça, diminua a animosidade e, na maioria das vezes, passem a apoiar aquele pobrezinho que está chorando.

Nos últimos tempos, por causa das transmissões ao vivo dos debates mais calorosos, temos visto esse artifício ser utilizado com bastante frequência, principalmente nas defesas de teses indefensáveis e nos discursos de políticos em situações desfavoráveis.

Quando as palavras não são bastante convincentes para manipulação dos fatos, apesar das vozes embargadas, os oradores, vez por outra, recorrem ao lenço, talvez, embebido de alguma substância estimuladora de lágrimas, para que nesse lapso de tempo, o efeito “compaixão” propicie o atingimento do que se quer, sem o crivo da decodificação das palavras, muitas vezes, comprometedoras.

A arte de iludir para tirar vantagens, mascarar situações, burlar a consciência alheia ou mentir para alcançar o objetivo desejado permite aos cínicos o uso indiscriminado das lágrimas ou de quaisquer outros artifícios, por mais sórdidos que nos possam parecer.