O SEQUESTRO

O SEQUESTRO

Preste atenção nessa história. Meu nome: Rute, tenho trinta anos e estou perdidamente apaixonada por um cantor. É claro que esse cantor não sabe que eu existo. Não importa, decidi sequestrá-lo hoje.

Fui ao show. Tudo lindo. Perfeito. Maravilhoso.

Na saída, fiquei dentro do meu carro, próximo a carreta de onde o meu ídolo deveria sair. E lá vem ele. Que coisa graciosa. De perto assim, parece até que está um pouco mais alto e calvo. Não me importo. Hoje ele ficará comigo.

Coloquei o chapéu e aceno, começou a chover. Ele vem correndo em minha direção. Entra no carro:

- Me leva para o hotel. Estou exausto.

- Tudo bem. Quer água?

- Quero.

Ele bebe e adormece no meu carro.

Parti rumo ao cativeiro.

No caminho passei no posto de gasolina, afinal não quero nenhum problema.

- Onde estamos indo?

- Fique calmo, já estamos chegando.

Após duas horas de viagem... Chegamos.

O lugar escolhido foi um sítio bem afastado da estrada. Bem fechado, mata densa, casa aconchegante, boa comida. Um lugar paradisíaco.

Sonolento, o ajudo a entrar. Como eu disse, a casa é aconchegante. Ninguém sabe da existência dessa propriedade. Então... tudo dará certo. Tudo acontecerá como o planejado. Não irei prendê-lo, mas também não darei tanta liberdade. As coisas deverão ser do meu jeito.

Coloco o meu amor na cama. Ele realmente está cansado. Acho que bêbado também. Não percebe o que está acontecendo, nem onde está.

Tiro sua roupa, para que possa descansar melhor... vou até o banheiro. Debaixo do chuveiro, comecei a chorar. Não sei o porquê, simplesmente comecei a chorar. Talvez as lágrimas trouxessem um pouco de medo, de arrependimento, de angústia, sinceramente não sei... só chorei. Deixei a água cair no meu corpo. Quem sabe a pressão e a adrenalina .... sei lá. Eu queria tanto aquele homem que fui capaz de sequestra-lo. Qual seria a reação dele quando entendesse o que estava acontecendo. Fechei os olhos e dei um tempo. De repente:

- Tá tudo bem?

Levei o maior susto. Lourenço diante de mim.

- Oi. – disse desconcertada. Tá tudo bem...

Levantei-me rapidamente, fechei o chuveiro e procurei a toalha; Lourenço a segurava.

- É isso que quer?

- Desde quando está acordado? Me dê a toalha por favor!

- Eu não dormi em nenhum momento. Queria saber qual era a sua e descobri. Este lugar é bastante manero. Só não entendi o porquê das lágrimas. Se arrependeu?

- Me dê a toalha.

Como não obtive uma ação positiva. Saí do banheiro nua e fui até o armário para pegar outra toalha e para minha surpresa não estavam ali. Lourenço olhou-me com um jeito gostoso e eu senti-me tímida. Puxei o lençol da cama e me enrolei. Ele começou a rir. Ria como um menino, uma risada pura, gostosa... foi chegando perto e cada vez mais perto e beijou-me. Eu sonhava com aquele beijo mais do que tudo. Como desejei aquela boca na minha. Agora tudo era real. Fiquei indefesa. Lourenço tirou o lençol deixando-me sem ação. Meu coração disparou. “Pé no chão mulher” - pensei rápido. Empurrei Lourenço. Não tinha certeza das intenções dele. Afinal de contas, sou fã de seriados policiais e sei como alguns sequestrados agem para manipular seus sequestradores.

Lourenço é forte. Não queria que isso se voltasse contra mim. Ele assustou-se com minha reação repentina e perguntou-me:

- Afinal, onde estou?

- Meu sítio.

- Quando vamos embora?

- Ainda não sei...

Antes de terminar de falar, Lourenço caiu na cama. Apagou por completo. Fiquei com medo, depois percebi que ele só dormia. Talvez finalmente o remédio, que eu coloquei na água, estivesse fazendo efeito.

“E agora? O que fazer?” – estava ali, diante de mim, a pessoa que eu mais desejei e agora... não quero mais? Ele não parece ser o que eu pensava que era. Sei lá... será??? Eu me enganei tanto assim? Vou esperar para ver no que vai dar...

Deitei-me na sala. As janelas estavam trancadas, as portas muito bem fechadas, tudo daria certo. Como eu disse, deitei-me, mas o sono não veio. Quando estamos sem sono, mil coisas passam por nossa cabeça. E aí que o delírio teve início...

Conheci o Lourenço por um acaso do destino. Algumas amigas e eu estávamos em um barzinho, happy hour, quando ele apareceu. Da entrada, ele veio em minha direção, olhos nos olhos. Eu quase desmaiei. Como um cara tão lindo daqueles, olharia para mim daquele jeito? Sou uma pessoa comum. Então... fiquei naquela me achando o máximo. Sorriu e passou reto. Foi só um sorriso. Exatamente, aquele sorriso fez que eu perdesse noites e mais noites de sono. Apaixonei-me, à primeira vista. Bobeira né? Pode até ser. Foi aí que algo inusitado aconteceu. ...

Minha profissão exige que esteja sempre viajando e em uma dessas viagens, Lourenço estava no avião. Ele não me olhou, acredito que a preocupação deveria ser outra. Quando pousamos, eu notei que ele havia olhado para mim discretamente... mas olhou. Então, se ele me olhou, lembrou-se de mim. Mas nem uma palavra foi dita, nem um gesto, nem um sorriso, absolutamente nada. Neste instante o motorista da empresa chegou para levar-me para o hotel. Tudo corriqueiro... cadastro, etc, etc, etc. À tarde, reuniões e mais reuniões, cansaço imensurável, sendo assim, sem jantar, um banho e cama. Pela manhã, tudo novamente e antes de partir para mais um dia de trabalho passei pelo restaurante do hotel para um cafezinho rápido, e... adivinha quem estava lá e muito bem acompanhado? Exatamente. O homem da minha vida. Ele estava ali, na minha frente. Acompanhado. Que mulher linda! A impressão que tive, era de que estavam discutindo. O meu café prolongou-se mais do que o necessário. A curiosidade era imensa; eu não podia sair dali sem saber o que realmente estava acontecendo.

A “mulheraça”, levantou-se delicadamente, passou a mão nos cabelos dele, ele recusou o carinho. Ela sorriu discretamente e saiu. Ela não estava hospedada no hotel. Será que ele fez toda aquela viagem somente para levar um fora? Bem feito. Quem mandou fazer de conta que nunca tinha me visto. Bem feito, fiquei repetindo isso por vários minutos.

Aí lembrei-me do motivo de estar em São Paulo. Corri, peguei um táxi e fui para mais um dia de reuniões e mais reuniões. O dia passou rápido. Eu torcia para chegar logo ao hotel e saber se ele estava ainda lá ou não. E mais uma surpresa. Os diretores da empresa resolvem jantar no mesmo hotel em que eu me hospedei.

- Prepare-se Rute, teremos um novo cliente. Precisamos mostrar a ele que podemos administrar não só a carreira dele, como também a vida dele, o dinheiro dele, tudo. Entendeu? Tudo tem que dar certo.

- Ok!!! Mas que é esse misterioso cliente?

- Lourenço Lafont. Um cara rico, mimado, herdeiro de uma das maiores fortunas da Itália. Quer ser cantor.

- Cantor? Não me digam que se trata de mais um filhinho de papai com problemas de auto aceitação?

- Mocinha não comece com os seus preconceitos. Nem todos os ricos mimados, são como a nossa última cliente. Mas ela está fazendo muito sucesso, você sabe disso.

- Que sucesso!!! Voz de taquara rachada e muito dinheiro para jogar no lixo.

- Não importa. Ela fez a escolha dela e nós precisamos deste novo cliente. Tudo bem?

- ......

- Tudo bem?

- Tá... tudo bem. Só espero que este pelo menos tenha um pouco de talento. Que saiba a diferença de dó e ré.

Fui para o hotel superchateada e ao mesmo tempo ansiosa. Precisava saber se o homem de “minha vida” estaria lá ou não. Não havia como buscar informações no saguão, pois nem o nome dele eu sabia. Fiquei calada. Não consegui passar as informações necessárias ao atendente.

- Deixa pra lá. O que tiver de ser, será... – o rapaz não entendeu nada, simplesmente sorriu por educação.

Fui ao quarto; tomei um banho bastante demorado. A preguiça começou a tomar conta do meu corpo. Eu queria e precisa dormir e ao mesmo tempo o meu maior desejo era descer e dar de cara com aquele “deus grego”, e que ele me reconhecesse. Depois lembrei-me do chefe: “blá, blá, blá...”. Então... vamos lá, ao trabalho e avante!

Quando cheguei ao restaurante, meus colegas já estavam à mesa; cumprimentei a todos e a namorada de um deles, simpaticíssima, sorriu e começamos a conversar sobre... sei lá o quê. Mas foi divertido. De repente, fiquei pálida:

- Rute, você está bem? – perguntou-me Valquíria. – você está pálida, branca como um papel. Viu algum fantasma.

- Val, não nos conhecemos, mas por favor me acompanhe...

Mulher é mulher. Mulher se entende, quando quer. Val, sem saber do que se tratava, levantou-se e me acompanhou até o banheiro.

- Você está bem? O que foi isso?

- Já estou melhor. Só preciso lavar o rosto e retocar a maquiagem. Obrigada, por me acompanhar sem fazer perguntas.

- Não fiz ainda... tudo isso é por causa do Lourenço?

- Lourenço??? Que Lourenço? Não conheço nenhum Lourenço.

- O Renato me disse que vocês vão assinar um contrato milionário com o Lourenço Lafont.

- Sim, mas e daí....

- Daí? Daí que quando ele apareceu no saguão, você ficou assim.

- O quê????

- Vamos voltar, depois eu te conto tudo sobre ele. Eu sei tudo e até o que ele não sabe.

Sorrimos e voltamos à mesa.

Para minha surpresa era ele, “o homem da minha vida, o deus grego”, era na verdade Lourenço Lafont. E eu tinha o dever de transformá-lo em um cantor de sucesso. Pronto mais um... riquinho sem talento. Esse pensamento não saia da minha cabeça, que decepção.

Quando fomos apresentados o olhar dele em minha direção foi totalmente indiferente, alheio, distante dos olhos que um dia eu me apaixonei. Até o sorriso era sem graça. Pensei, que talvez, o motivo de tanta frieza fosse a ‘mulheraça’ do café da manhã. Poderia ser, e por que não? Dei-lhe um desconto. O cara poderia estar sofrendo, nada mais justo, ele levou um fora. Fora, este, que eu adorei.

O assunto sobre projetos e mais projetos prolongou-se, tanto Val quanto eu, estávamos cansadíssimas. Pedimos licença e fomos até o bar. Pela primeira vez, Lourenço olhou-me.

- Lourenço – disse Ricardo – não esqueça que Rute é a pessoa que cuidará de sua carreira.

- É? Que bom!

Essas foram as palavras que disse a meu respeito. Sorri timidamente e acompanhei Val.

- Me conte tudo sobre esse cara. Tudo o que tem de lindo, tem de antipático.

- Calma Rute, não vá julgá-lo ainda.

- ......

- Lourenço herdou toda a fortuna da família. Ele é multimilionário. Apesar de ter tanto dinheiro, o pessoal chama ele de Bruce Weine às antigas. É solitário, problemático. Essas coisas que os psicólogos tentam resolver. E, nós duas sabemos, o dinheiro não compra tudo. Pois bem... a noiva dele morreu em um acidente gravíssimo de carro, isso tem mais ou menos uns três anos. Dizem que ele era apaixonadíssimo por ela. Dizem... dizem também que o maior sonho dela era que ele se tornasse um cantor pop. Imagine só: cantor pop. Pois bem, o cara tem talento. E pelo que estou sabendo, você fará isso por ele.

- Não sei não... ele não me parece assim, tão disposto a cumprir algumas das minhas regras.

- .... O que você sabe que eu ainda não sei.

- Tá. Hoje pela manhã,...

- Continue.

- Eu o vi no restaurante, ele estava acompanhado por uma mulher lindíssima. Ela tentou fazer um pequeno carinho no cabelo dele e ele recusou. Acho que ela terminou o relacionamento com ele.

- O nome dela é Renata. Renatinha para os mais íntimos e dona Renata para os mortais.

- Renata? Nunca ouvi falar...

- A Renata é a ex-esposa dele. Nem um nem o outro pretendem voltar a viver juntos. Ela está de caso com um outro ricaço do petróleo. O que ela quer dele é a metade da fortuna. Ela esquece que ele só recebeu a herança depois que eles estavam separados e judicialmente falando, herança é herança.

- ...

- Renata não é uma pessoa má. Um pouco gananciosa, má não, gananciosa, sim.

- Vamos nos despedir, preciso descansar e amanhã dar início ao projeto: transformar um riquinho problemático em um cantor pop popular.

Começamos a dar muitas risadas. Val e eu nos tornamos amigas. Amigas de verdade. Dirigimo-nos até a mesa onde os outros ainda estavam conversando sobre negócios e pedimos desculpas. Eu fui ao meu quarto e Val acompanhou Ricardo.

Ao entrar no apartamento, retirei os sapatos que me faziam calo e ticabum, cama. Fiquei uns quinze a vinte minutos acordada, tentando entender o que realmente estava acontecendo quando alguém bateu na porta. Assustei-me, não havia pedido nada na recepção. Quando abri, a surpresa... Lourenço com uma garrafa de champanhe e duas taças.

- Quero pedir-lhe desculpas. Fui indelicado com a mulher que vai cuidar da minha carreira e da minha vida de hoje em diante.

- Mas tem que ser agora? - estou cansada e amanhã será um grande dia.

- Se você não me desculpar, ficará quase impossível darmos início a uma nova amizade.

- Não seremos amigos, serei sua agente, nada além disso.

- Mas os agentes e os artistas precisam confiar um no outro e para isso existe a amizade.

- Confiança é uma coisa... Amizade é outra totalmente diferente. E eu não tenho certeza se seremos amigos ou mesmo se confiarei em você. Não te conheço ainda... é preciso dar um tempo ao tempo, e daí, quem sabe? – não sei como consegui falar tudo aquilo tão friamente, minhas pernas estavam bambas.

- Só uma taça. Eu prometo que me despeço e você poderá ter uma nova impressão a meu respeito. Tudo bem?

- Tá. Entre. Uma taça somente.

Lourenço entrou em meu quarto apreensivo. Parecia um menino que faria arte na casa da avó. Serviu-me uma taça de champanhe e começou a falar sobre a vida dele. Disse que não era tão arrogante como aparentava, que estava com problemas particulares e que assim que tudo estivesse resolvido, dedicar-se-ia inteiramente a carreira artística. Comentou que, quando criança, os pais investiram nele para que aprendesse a tocar alguns instrumentos musicais e que esse conhecimento nunca foi colocado em prática. Era uma oportunidade que ele não queria desperdiçar. Lourenço foi simpático e a garrafa já estava vazia quando eu lhe disse:

- Boa noite. Era uma taça. Já bebemos uma garrafa, portanto, tenha uma boa noite, senhor Lourenço. Pela manhã nos falaremos.

Lourenço olhou-me surpreso.

- Posso ficar?

- Onde?

- Aqui, com você.

- Não, é claro que não! Boa noite, senhor.

Ele foi para o quarto dele com a imagem no rosto de decepção. Eu angustiada, respirei fundo e disse-me: - Parabéns, não seda... fique firme. Deitei-me e o sono veio rápido.

Pela manhã, indiferentes ao que aconteceu na noite anterior, tomamos café juntos. Falei a Lourenço que quando retornasse ao escritório central, apresentaria a ideia dele à equipe e que assim que decidíssemos alguma coisa apresentaríamos a ele.

- Tudo bem. E quanto tempo devo esperar?

- Uns três a quatro dias. Lembre-se que somente após a assinatura do contrato começaremos a trabalhar em seu projeto propriamente dito. E ... mais uma observação. Você sabe cantar, se apresentar essas coisas todas? Ou ... é só mais uma frustração?

- Você quer saber se eu não sou um playboy com manias idiotas e se por um acaso não te darei dor de cabeça.

- Exatamente isso. Quero saber em que terreno estarei pisando, caso a gente comece a trabalhar juntos.

- Dona Rute ... eu ... bebo socialmente, muito pouco por sinal, nunca tomei um porre, me apaixono fácil .... por tudo o que faço. Sou sensível, mas não sou gay. Gosto de dançar, cantar e principalmente, ajudar as pessoas. A intenção desse projeto também é encontrar talentos escondidos por esse mundão. Pessoas que não tiveram oportunidades, assim como eu. O dinheiro não compra tudo, Rute. Mas a ausência dele faz com que muitos sonhos nunca saiam das gavetas. Eu quero abrir algumas dessas gavetas e realizar alguns sonhos com projetos sociais que você irá coordenar. Mais alguma pergunta?

- Por enquanto não. Veremos até quando tudo isso serão flores!

Lourenço olhou-me desconfiado e desejando-me um bom dia, saiu.

Voltei para Londrina. Na chegada, todos queriam saber das novidades sobre o novo cliente. Compartilhei somente o profissional. Não falei que já o conhecia, essas coisas e tal. Reuni a equipe e começamos a projetar como transformaríamos o senhor Lourenço Lafont em um cantor pop de sucesso. Uma das funcionárias disse que já havia ouvido Lafont cantar.

- Ele é afinado, tem um bom repertório. O que ele precisa mesmo é de lançar um bom compositor. Dinheiro para gastar ele tem.

- Exatamente! Um compositor desconhecido...

A equipe de trabalho começou imediatamente a procurar um bom compositor. Agora o problema era: onde encontrar essa pessoa... começaríamos pelos barzinhos da cidade.

Ao apresentarmos a ideia ao Lafont, percebi que os olhos dele brilhavam.

- Um compositor desconhecido... amei a ideia. Que tal fazermos pesquisas em escolas públicas?

- Ótimo! Então podemos assinar o contrato, senhor Lafont?

- Com certeza! Entretanto, só assinarei o contrato com a empresa de vocês com uma ressalva...

- Qual? – pensei – “já começou as frescuras”!

- A partir de agora não me chamem de senhor Lafont. Sinto-me uma pessoa de oitenta anos, nada contra as pessoas de oitenta anos, que isso fique registrado. O meu nome é Lourenço. Tudo bem?

- Tudo bem.

Coisinha ridícula. Ridiculamente lindo. Mas isso não me interessava mais. Precisávamos começar o trabalho imediatamente.

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Meus colegas de equipe eram fantásticos. Samuel e Denise, além de colegas, tinham um “lance”, não assumiam, mas todos sabiam que ali havia muito sentimento mutuo. Como dizia, os dois foram a uma festinha, um churrasco. Coisa simples, animada, verdadeira e música não faltava. Antes de eles saírem, chegou um rapaz chamado Pedro e o pessoal gritou:

- Finalmente um artista de verdade.

Aquela fala fez com que tanto Samuel como Denise permanecessem um pouco mais na casa. Pedro realmente cantava muito bem. Bom repertório.

- Pedro – disse o dono da casa. Toque uma das suas composições.

- É pra já.

A letra era fabulosa. Romântica. Dinâmica. Prendia qualquer ouvinte. A letra tinha história. Era o compositor que a agência tanto procurava.

Samuel aproximou-se de Pedro e após conversarem sobre vários assuntos e cantarem, convidou-o a visitar o escritório.

- Não esqueça de levar as letras de suas músicas.

- Pode deixar. Uma oportunidade dessas não se deve deixar passar. Obrigado.

- Ok, amigo, te esperamos amanhã.

Samuel e Denise, foram embora com a certeza que tudo seria muito bem recebido por todos. Pedro era muito bom. Agora, o restante do pessoal também precisaria aprová-lo.

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Eu estava cansada, apaixonada, indecisa, angustiada e ao mesmo tempo esperançosa. Estávamos com um diamante bruto em nossas mãos. Precisávamos lapidá-lo com cuidado. Se acertássemos, conseguiríamos fazer com que outras pedras preciosas também ganhassem um brilho extra. Essa era a nossa intenção, lanças vários talentos. Tinha que dar certo.

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Pela manhã, o casal Samuel e Denise, entraram eufóricos no escritório. Já haviam ligado ao Lafont e queriam que todos estivessem presentes na apresentação do Pedro. Pedro já estava no estúdio. O rapaz era fantástico. Cantava bem, boa aparência e sabia contar histórias como ninguém através da música. Ao término da apresentação, todos o aplaudiram. Lafont:

- É ele. Vamos contratá-lo.

- Calma, primeiro precisamos fazer-lhe a oferta. Se ele aceitar, aí sim, assinaremos o contrato.

Pedro era um excelente profissional. Após ouvir nossa proposta, pensou um pouco e disse que sim.

- Assim que começar a gravar as minhas músicas e elas se tornarem um sucesso, quero um aumento. Outra coisa, se puder, também quero fazer shows.

- Ok, Pedro, precisamos trabalhar, trabalhar muito.

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- Pedro tem mais um detalhe, não será só composições suas. Caso encontremos outro compositor, teremos dois ou mais poetas e artistas envolvidos. Ok?

O sucesso veio aos poucos. As apresentações começaram tímidas e depois tornaram-se mega. Entretanto, Lafont, de vez em quando, fazia apresentações em lugares menores acompanhando os novos cantores que ele fazia questão de lançar.

Aí chegamos ao ponto. Lafont e eu tornamo-nos estranhos. As reuniões eram frias, assunto profissional, nada mais. Nunca mais ele me olhou como um homem deve olhar para uma mulher. Ele tinha casinhos e mais casinhos, todos passageiros. Mesmo eu sabendo que eram passageiros, isso me machucava e muito. Ele gostava de me fazer sofre. Eu percebia isso nas conversas de corredores...

Quando tomei a decisão em sequestra-lo, acreditei que seria uma forma de chamar a atenção dele para mim. Ele precisava compreender que eu existia. Eu o amava. Ele precisava de mim. Aí o resultado....

Estamos aqui, no meu sitio, isolados. Ele dorme como um bebe. Isso é bom, muito bom, ... e quando acordar e perceber o que está acontecendo? – eu tenho medo da reação dele. Mas.... agora não tenho como voltar no tempo.

Olhando ele assim, dormindo, tão lindo, tão inofensivo, tão perfeito, tão amado. Realmente eu amo Lourenço Lafont. O desejo que eu tenho é de gritar:

- Lourenço eu te amo......

Tudo é muito relativo. Inclusive o amor. Às vezes confundimos sentimentos. Se isso é normal ou não, ainda não sei. Mas vamos lá. Lafont me chama:

- Rute. Onde você está? Rute!!!!!

- Oi. Estou aqui. Está sentindo alguma coisa?

- O que está acontecendo?

- .........

- Fale. Isso é um sequestro?

- Calma. Está tudo bem! Eu ..... eu precisava ficar um pouco sozinha com você...

- Por quê? Nos vemos todos os dias.

- Não. Nós trabalhamos juntos. Eu cuido da sua vida....

- Profissional. Muito obrigado. Você é muito competente nisso.

- Então... você se exclui de mim. Me ignora. Não me vê.

- Calma lá mocinha... – você quem exigiu que fosse assim. Lembra?

- ..............

- Eu tentei chegar perto de você. Eu tentei .... – cara eu sei o que passei para não enlouquecer. Eu te amei no momento em que te vi...

- ...........

- O que você fez??? Fale Rute! O que você fez?

- Eu estava com medo.

- Eu não??? Você acha que eu não estava apavorado. – quando eu vi você naquela reunião... mil coisas passaram em minha cabeça. Não sabia para que lado olhar. O que fazer com as mãos. Eu estava pior que adolescente. Rute eu te amei no dia em que te vi no bar. O teu sorriso, o jeito de olhar disfarçando, o modo como mexe no cabelo. Tudo em você me encanta. Mas o que você fez? Diga-me? Você simplesmente colocou entre nós uma muralha. Me ignorou. ‘Nosso relacionamento será unicamente profissional senhor Lafont’ – lembra disso.? Claro que lembra. Porque você fez questão que eu não me esquecesse nem um minuto se quer.

- Lourenço. Ouça-me por favor.

- Fale. Afinal de contar estou sequestrado... certo?

- Mais ou menos. Vou abrir meu coração. Depois você pode ir.

- Estou ouvindo.

Lourenço me olhava de um jeito que eu nunca havia notado antes. Ele estava com raiva. Exatamente, ele me odiava. Eu não queria perde-lo, mas o que acontecesse de agora em diante... a culpa seria única e exclusiva minha.

- Lourenço eu amei você, amei mais do que a mim mesma no momento em que o teu olhar cruzou o meu. Você sorriu tão espontâneo. Depois me ignorou.

- Eu não te ignorei. Você não me conhecia. Ninguém sabe o que eu passei quando fiquei sem família. Rute as pessoas queriam me controlar para controlar o meu dinheiro. Tive relacionamentos que levaram de mim alguns milhões. Esse era o interesse das pessoas em mim. Quando percebi que estava apaixonado por você, fiquei com medo. Me aproximei tentando ser um calhorda e ao mesmo tempo querendo saber em que terreno estava pisando. Cada não seu, cada vez que batia a porta em minha cara, ... eu me apaixonava mais e mais. Aí...

- ........................

- Exatamente, aí você me chama e diz para eu largar do seu pé, porque o nosso relacionamento era estritamente profissional. A sua frieza me congelou.

- Quando eu congelei você, eu te amei mais ainda. Eu sei que a culpa foi minha de chegar onde chegamos. Por isso eu fiz o que fiz.

- Me sequestrou.

- Você pode ir. Já olhou para mim, já sabe que eu existo, que eu não sou uma pedra de gelo ambulante. Você já sabe o quanto eu te amo. Amanhã falarei com o pessoal do escritório e vou embora. Vou ficar um tempo na Europa e quem sabe... não volte mais. Eu te peço desculpas. Eu sei que tem um bom coração, que é um excelente artista, mas eu não tinha o direito de fazer o que fiz.

- Eu não quero ir. Eu precisava de umas férias e você está me proporcionando. Fica comigo. Vamos nos dar uma chance.

Minhas pernas tremiam. Fiquei sem reação. Não sabia o que fazer ou mesmo o que dizer. Ele me queria de verdade. Ele me desejava de verdade. Eu não era mais uma de suas conquistas. Ele me amava assim como eu o amava. Lourenço se aproximou. Tocou em meus ombros e beijou-me. Beijou-me com desejo, com ardor, com paixão. Comecei a chorar.

- O que foi? O que eu fiz?

- Você? Não. O que eu fiz. Eu amo você mais do que tudo e nunca vou deixar que acabe. Não quero que nada fique entre nós. Não quero me separar de você nunca mais. Promete que vai lutar por mim assim como eu vou lutar por você a cada segundo de minha vida. Promete?

- Eu prometo. Eu vou cuidar de você. Te proteger. Te orientar, porque você é fogo. Eu prometo que vou te amar para sempre.

Falando assim, Lourenço beijou-me com mais amor ainda. Fizemos amor. Estávamos perdidamente apaixonados.

Fiz algumas ligações avisando onde Lourenço estava e com quem estava e que as agenda de shows deveriam ser revistas. Todos ficaram surpresos com as novidades. As novidades... Lourenço e eu ficamos na fazenda durante uma semana. Sete dias. Foram dias e noites de muito amor verdadeiro e recíproco. Nadamos no rio. Fizemos piquenique. E.... fizemos amor.

- Meu gatinho...

- Fala muié...

- Hora de voltar à realidade.

- Tem certeza? Está tão bom assim. Aqui. Isso é o paraíso na terra.

- Eu sei, mas você precisa cumprir com os seus compromissos. Esqueceu quem você é?

- Não princesa, não esqueci.

Dormimos abraçadinhos. Fizemos mil planos, inclusive o de se casar.

- Rute...

- Humm.

- Você se casaria comigo?

- Agora. – respondi sem pensar.

Lafond me beijou de um jeito... senti arrepios. Senti medo. Senti tudo, menos vontade de deixar ele partir. Quando amanheceu, chovia muito e mesmo assim pegamos a estrada. A viagem foi demorada. O trecho era bastante perigoso com muitas curvas e a pista estava escorregadia. Quando chegamos a BR que nos levaria à Londrina, Lourenço pediu para continuar. Ele queria dirigir para eu descansar um pouco.

- Tudo bem. Vamos trocar de lugar.

Quando Lourenço começou a dirigir, senti um frio na barriga. Pedi para que fosse devagar e com bastante atenção. A chuva havia aumentado muito.

- Não se preocupe. Descanse um pouco.

Falando assim,... não senti mais nada. Tudo ficou escuro..

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Fátima da Silva
Enviado por Fátima da Silva em 10/10/2016
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