Diário de Sonhos - #109: Cidade Fantástica
Finalmente um sonho sem demônios, monstros e nada do tipo.
Hoje foi uma daquelas boas noites onde consegui dormir bem, e dormir muito. Nenhuma pontada no peito, nenhuma dor. Até consegui dormir com a televisão bem baixinha e o zumbido no ouvido não incomodou tanto. Dormir até 11h30, mas eu podia jurar que estava dormindo até umas 18h00. Acordei umas cinco ou seis vezes e logo voltei a dormir. Cada vez que dormia era um sonho diferente. Não consigo lembrar exatamente todos, mas vou relatar o que mais me impressionou.
Os primeiros sonhos eu perdi, mas lembro apenas que foram bom sonhos (até porque se fosse ruins eu ia preferir ficar acordado com sono mesmo). Sonhei que estava numa cidade linda e enorme. Não lembro direito se no sonho me disseram que era Aparecida ou Santa Catarina, mas foi um destes nomes que eu ouvi. Fazia um dia lindo, com céu bem azul e algumas nuvens se arrastando. Estava ensolarado, mas não quente, e nem frio. Estava gostoso. Havia algo no ar. Uma sensação de liberdade, pureza. O céu azul e lindo se estendia por todos os lados, pois não havia prédios feios e cinzentos tampando a visão das montanhas bem lá longe no horizonte. Não era uma cidade feia como São Paulo. Era mais linda que tudo que eu já havia visto. As pessoas eram educadas e corteses, amigas. Não havia tristeza e nem fome em seus rostos. Só sorrisos e poesia saía de suas bocas. Eu não sentia tristeza, nem vergonha. Não sentia o peso de minha mente machucada sobre meus ombros. Era como se alguém tivesse enfiado uma mangueira dentro de meu crânio e limpado toda a sujeira que eu carregara até então.
Andando pra lá e pra cá subi num jardim que ficava à beira de um morro bem alto. Girei em trezentos e sessenta graus, absorvendo cada centímetro daquela vista. Então vi algo que me impressionou tanto a ponto de me fazer cair pra trás. Era uma construção tão alta, tão majestosa que era impossível a ver num único relance. Não sei bem se era uma igreja, um templo ou uma obra de arte gigante. Até perdi o fôlego ante tão incrível construção. Perguntei o que era aquilo e alguém me respondeu, mas quando acordei esqueci o que era. Então alguém disse "ei, cuidado!". Agora estou a muitos metros do chão, caindo. À minha frente vejo uma grande esfera negra com um anel orbitando ao seu redor, como se fosse o planeta Saturno, só que preto como piche. Movimentando-me no ar consigo fazer com que meu corpo siga em trajetória até o Saturno negro. Por pouco consigo me agarrar em seu anel. Agora estou dentro de Saturno. Na verdade é uma espécie de nave ou drone. Olho pela janela e há vários outros Saturnos flutuando pela cidade. O anel é uma espécie de "ponte bamba" onde os visitantes podem caminhar. Estou andando no anel e o meu guia diz pra mim empurrar as paredes da ponte. Empurro e tudo some. Só vejo a cidade lá embaixo. Vou cair de novo. Mas não. Estou parado no ar e consigo observar toda a cidade sob meus pés. como se fosse um helicóptero. Meu amigo (o guia, mas na verdade ele é meu amigo) me leva até um outro Saturno, só que este tem cor azul bem forte, mais ou menos três vezes o tamanho dos Saturnos pretos (que medem mais ou menos o mesmo que um quarto de 4x4m) e ao invés do anel existe uma espiral orbitando em torno do planetoide. Saturno azul é na verdade um parque aquático (e agora que estou dentro dele não parece ter três vezes o tamanho de Saturno negro, mas o tamanho de um Hopi Hari). A espiral é na verdade o maior toboágua do parque. Caminhamos até o topo (aqui meu amigo explica que graças a um sistema de gravidade artificial a gente sempre acha que está na parte de cima do planetoide). Há muitas piscinas bonitas, e também lagoas e árvores e um bosque repleto de animaizinhos amistosos.
É noite na cidade fantástica. Eu e meus amigos (pois fiz muitos amigos durante o dia) estamos cansados e resolvemos voltar para o hotel para dormir. Só tem homem. Pergunto onde estão as garotas. Com um sorriso malicioso eles respondem que foram comprar umas coisinhas. Vou até o vestiário pegar toalha e sabonete no meu armário. O vestiário está vazio. Só estão eu e meu amigo Edson Paixão, que também se prepara pra tomar banho. Estranho. Até um minuto atrás meus amigos estavam loucos pra ir tomar banho e jantar, mas estão todos lá fora fumando e olhando pra cidade. Edson me explica que as meninas foram comprar camisinhas e os rapazes esperam elas pra fazer sexo no chuveiro. Ele diz pra gente esperar eles acabarem, mas eu me apresso e tento tomar banho antes das meninas chegarem. Tarde demais. Elas chegam. Os rapazes começam a festejar sem cerimônia, como uma matilha de lobos faminta quando vê carne. Eles invadem o vestiário e começam a se amontoar, pegando toalha, sabonete, pasta de dente, etc. Alguém roubou minha toalha marrom da MMartan, minha toalha preferida. Estou puto. Os garotos começam a subir as escadas correndo em direção aos chuveiros e eu vou atrás. É uma subida e tanto. Subimos sabe-se lá quantas escadas até que ouvimos uma voz dizendo "ma oe, vem pra cá, vem pra cá, ha hae, róquê, pra cá, roquêêêêê!". Voltamos um andar e vemos o Sílvio Santos. Há duas portas. Uma tem os chuveiros normais. Na outra, onde o Sílvio Santos está, há uma grande placa de neon que diz Banho Roda a Roda Jequiti, com muita música e muitos prêmios. A maioria vai pra lá. Eu escolho o chuveiro normal. Lá dentro pergunto quem pegou minha toalha marrom da MMartan. Alguém diz que está no meu quarto. Agora lembro que tenho um quarto bem lá no alto, com um banheiro e um chuveiro só pra mim. Começo a subir as escadas correndo, sem nunca chegar no meu andar.
São Paulo, nove de outubro de dois mil e dezesseis.