ORIENTE-SE

Esse negócio de orientação é complicado. Seria tão mais simples se eu pudesse escolher.

Acordo a semana inteira as 6h00, chega o fim de semana o que acontece? Acordo as 6h00 também, mesmo tendo a opção de levantar as 8, 9, 10 ou até mesmo meio dia se assim quisesse. Não adianta, contrariando meu desejo a minha programação cerebral (instinto), ou melhor dizendo, a orientação do meu relógio biológico (chamado ritmo circadiano) me desperta as seis horas. Dai em diante é impossível dormir. Posso escolher levantar ou não. Se eu quiser ficar na cama sei que será um tormento. O que fazer?

Estou escrevendo isso porque a minha orientação para Língua Portuguesa é moleza. Faço uso das regras gramaticais de modo semiautomático (veja se escreve sem hífen, isso eu sei). Internalizo o modo correto de uso de acentuação, de vírgula, advérbios, sujeito oculto, regências verbais, uso de x, ch, s, ç, ss e z. Pra redigir um texto sofro mais pela falta de criatividade do que por erros de escrita. Sei como se escreve exceção e em que situações usar sessão com dois “S”, mas por outro lado, não entendo quase nada de matemática, exceto as tabuadas e as operações simples. Nem me pergunte pra que eu usaria o teorema de Pitágoras, pois não saberei responder. Se me pedir pra trabalhar com dinheiro talvez lhe volte troco errado. Queria poder escolher conforme a minha necessidade, mas não controlo a minha disposição biológica.

E o que dizer dá minha orientação musical? Definitivamente um som pra mim é só um barulho e não uma nota musical. “Sol” pra mim é uma estrela, “Lá” é aquilo que não esta aqui, “Dó” é ter piedade e “Ré” é uma das marchas do carro. Não me atrevo a tocar um instrumento. É uma escolha pela qual opto de forma sabia devido a minha falta de talento musical ou se preferir, orientação cerebral para a música.

Acredito ainda que o fato de ser canhoto me complique a vida se eu optar por tocar instrumentos de cordas. Olha a minha orientação aqui de novo. Instintivamente sempre vou pegar uma caneta ou uma colher com a mão esquerda, se eu escolher fazê-lo com a direita, me dará muito mais trabalho.

Portanto, sou orientado pra algumas habilidades natas, sou “programado” de um modo único não sei se por vontade de Deus ou por evolução das espécies. Posso buscar desenvolver algumas habilidades para as quais não nasci apto, porém sempre terei um resultado aquém se comparado aos daqueles que já nasceram para isso. Será sofrível. Tentar fazer algo assim sempre será uma escolha, minha orientação cerebral não. A minha orientação não é uma escolha pela qual opto posso apenas escolher o que fazer com ela. Posso fingir que não existe como também posso me esforçar lutando contra a minha natureza.

Agora que expliquei essa diferença entre orientação e opção, te oriento a levar esse conceito para a vida, principalmente quando for se referir à sexualidade de alguém. Orientação não é opção.