Alô!

Alô! Sim, sou eu, mãe, estou bem sim. Obrigada pelos parabéns, eu sabia que a senhora não ia esquecer. Não, não vai ter festa hoje, talvez no fim da semana uma pizza para comemorar. Mais uma vez obrigada por ter ligado. Ah, tem uma fila para falar comigo? Então passa o primeiro.

Assim era alguns anos atrás no meu aniversário e de muitas outras pessoas. Ligações e mais ligações, todos os parentes e amigos querendo nos parabenizar, nos desejar de viva voz toda felicidade do mundo. Era um dia esperado com ansiedade, tanto pelo aniversariante quanto pela pessoa que ia parabenizar. Se alguém esquecia ou não podia no mesmo dia, certamente no outro chegavam os parabéns com os pedidos de desculpas. Era emocionante, era inesquecível esse dia.

Ontem foi meu aniversário. Mesmo sabendo que isso não iria acontecer, senti um fio de esperança de ouvir o telefone tocar. Tenho sete irmãos, vários sobrinhos, tios, primos, cunhados, enfim, tudo que uma família tem. Moro longe de todos eles, os mais próximos ficam a mil e duzentos quilômetros. Ouvir a voz de alguns seria para mim um alento, uma maneira de amenizar a saudade. O telefone não tocou. Mas as mensagens no whatsApp e as postagens no facebook chegavam a toda hora. Muitas sem palavras, mas figuras de bolos, flores, vinhos, aplausos, corações...lindos, coloridos, mas frios, sem sentido, sem emoção. O que eu queria mesmo era ouvir a voz da pessoa, falar com ela nem que fosse por um minuto, sentir a respiração do meu interlocutor me desejando felicidades e tudo de bom nesta data querida.

Sei que para muitos estou sendo "quadrada", afinal devemos estar antenados nas novas tecnologias. E sou antenada nelas, também sei enviar flores, bolos, presentes, vinhos...faço parte de redes sociais, mas acho que reduzir nossa vida a essas formas de comunicação seria nos contentar com pouco. Receber bom dia todos os dias às cinco da manhã, boa noite todas as noites de todos os grupos não é a mesma coisa que bater um papo por telefone ou pessoalmente uma vez por mês, ou por ano, conforme o caso.

É, meus caros, constatei no meu último aniversário que estou ficando

nostálgica. Ou seria antiquada?