De Moto Em Bruxelas
Todo mundo tem uma lista de coisas que gostaria de fazer ao longo da vida. A juventude é escrita com pontos de alinhavo, uma costura frouxa que precisará ser refeita para que esteja realmente pronta.
Ao longo dos anos, vamos tirando e acrescentando ítens a essa lista. O que já fizemos, o que perdeu a importância, o que já não nos parece fazer sentido - vão sendo subtraídos da nossa lista de desejos. Outros, vão sendo adicionados à medida que nossa vida toma um rumo diferente. Mas, muitos desses pequenos botões de felicidade jamais chegarão a abrir. Murcharão em nossos corações, até que um dia a velhice nos venha lembrar de todos eles ; os sonhos que não puderam ser vividos, que foram apenas isso: sonhos.
Todo mundo tem uma lista de desejos a realizar, até mesmo eu. No meu coração ainda restam alguns dos sonhos de menina, que amadureceram com a chegada da juventude, e sem que eu me desse conta, se aquietaram. Lembro agora dois deles, que com o passar dos anos me pareciam os menos prováveis de se tornarem reais: ver a aurora boreal e andar de motocicleta.
Hoje, aos sessenta anos de idade, subi na garupa de uma moto pela primeira vez.
Enquanto eu vestia o capacete e calçava as luvas, me dava conta da enorme emoção que sentia. Acredito que cada ano de espera a fez maior.
Sentindo o vento através do visor do capacete e a sensação de liberdade, pensei que isso devia ser o que mais se assemelha à sensação de voar.
Hoje, aos sessenta anos, andei de moto pela primeira vez... E, por mais que eu pudesse ter fantasiado sobre esse acontecimento , jamais chegaria perto de imaginar uma experiência como a que tardiamente pude vivenciar.
Agora entendo por quê precisei esperar tanto por esse momento; tinha que ser assim, agora eu sei! Tinha que ser na Europa, numa cidade que parece cenário de um filme, onde construções seculares eram o pano de fundo da minha maior aventura. Quando a emoção há tanto esperada tem o gosto de infância, de adolescência, de juventude... E as lágrimas, o doce sabor de sonho realizado!
Mentalmente, tiquei o penúltimo ítem da minha velha lista de desejos, sonhando com as luzes fantasmagóricas e deslumbrantes da aurora boreal...