Amor por Anexins - Artur Azevedo
Anexins são provérbios, ditados ou rimas que tratam sobre a complexidade humana. Nesta comédia, Artur Azevedo desenvolve um diálogo bastante intenso entre Isaías, um solteirão e Inês, uma viúva. Embora os anexins sejam uma compulsão de Isaías, percebe-se uma força e dinâmica mental fantástica por parte do solteirão.
Nos serve como uma pequena coletânea de anexins, afinal, são mais de 20 ditados super interessantes.
O enredo da peça é bem simples mas, não menos, engraçada. E, o que vale destacar aqui é que Inês, ao saber que seu antigo namorado (Filipe) não mais lhe quereria, ela, incrivelmente muda de opinião num piscar de olhos. Isto é: aceita o pedido de casamento de Isaías, um senhor, que há poucos minutos antes, ela rejeitara. Sua fala após essa decisão é assertiva: "Filipe acaba de me provar que o dinheiro é tudo nestes tempos. Espero aqui o Isaías com o meu "sim" perfeitamente engatilhado!".
Imagino que ao ser representada, esta peça produzirá risos, na decisão de Inês. Não risos de ironia, ou qualquer tipo de sarcasmo. Mas, tão somente um riso equivalente à surpresa. Afinal, a decisão instantânea da viúva é uma maneira perspicaz das mulheres engrenarem sua vida.
Ela, já viúva, ou seja, jogada ao escanteio não ir ficar dando bobeira na vida. Pintou dois homens, ela escolhe o mais simpático e bonito, como ela própria o falou. O mais bonito saiu de cena, ela não pensou duas vezes: derrete-se pelo seu "idiota, velho e muito impertinente".
O que se pode extrair desta peça? que, realmente, aquilo que Freud falara, existe: "o que quer uma mulher?". Não fica fácil compreender a lógica da fala de Inês, pois é tão convicta em seu amor por Filipe, que surpreende a todos com sua decisão abrupta de casar com Isaías.
Isso, certamente, é o ponto central desta peça, que escrita em 1 ato, portanto, bem simples e direta, ao menos expõe de maneira bastante interessante o caráter repentino do pensamento de Inês.
As mulheres, todos nós sabemos, ou deveríamos saber, sobretudo os homens, que não ficam de bobeira na vida. Para a mulher, um marido, um namorado, não é um acessório, é um mastro. Ter um homem ao seu lado, é certamente uma força na alma da moça. Se se for viúva, se já tiver passados dos 30, então, as convicções da mulher só aumentam. Sua decisão de ter um marido, de ter um filho, só crescem. Ou, naquelas que já se aprendeu a dor da vida, reconhecem que um tal "amor", de qualquer jeito, não vale a pena.
Surpreende também em Inês seu amor à Filipe, não por ele ser somente bonito, mas ter boas qualidades, mesmo "apesar de pobre". Ou seja: Inês é aquela mulher que não viveu intensamente o amor. Casou-se, viuvou e não conseguiu aproveitar bem a vida!
Belíssima comédia romântica!