= SILÊNCIO =

Esta noite o Silêncio bateu a minha porta.

Eu, vencido pelo cansaço, meio que deseducado,

não o convidei a entrar.

Fui ao chuveiro deixando que as águas corressem em abundância

pelo meu corpo,

olhei as minhas mãos, calejadas e maltratadas pelo árduo trabalho.

Senti-me tão frágil, tão carente, tão só...

Quando ultrapassamos o limite do corpo, perdemos, em parte, a razão.

Saí do chuveiro, vesti uma bermuda, coloquei a toalha em torno do pescoço, atirei-me na poltrona.

Eram tantos os pensamentos que se misturavam transformando-se em um só vazio.

Novamente, o Silêncio bateu a minha porta.

E aí?

Que importa? Os meus pensamentos estão confusos,

não me custa abrir a porta e conversar, ainda que por um curto prazo, com o ilustre visitante.

Entre e se acomode.

Saiba que hoje estou má companhia.

Se você veio a compartilhar de meus sorrisos ou ouvir as narrativas de meus sonhos e devaneios, devo decepcioná-lo. Toda a minha essência e o que havia de melhor esvaíram-se, restando em meu ser, o conflito.

Você veio trazer-me alguma mensagem ou simplesmente velar o meu sono?

Ele, o silêncio, sutilmente invadiu-me a alma, organizou os meus pensamentos, acariciou-me no mais profundo de meu ser.

Meu Deus! Estou despindo-me do cansaço!

Novamente estou pronto a sorrir, cantar, brincar e sonhar.

Diga-me meu amigo Silêncio: Você é Deus ou um anjo por Ele enviado?

Ouvi pela primeira vez a voz suave como pluma, refrescante como a brisa que enfeita as madrugadas. Era, com certeza, o Silêncio.

Com toda meiguice disse-me ele: _ Filho, eu não sou Deus, nem mesmo um de seus anjos. Sou o Sopro Divino que vem para aliviar as feridas, amenizar o cansaço, retirar as agruras e os problemas que lhe são impostos pelo tempo.

“Venha! Dê-me a sua mão, olhe os feitos seus, veja como ficou bonito, contemple a felicidade que é causada, aos outros, pelo fruto de seu trabalho. Deus, em sua infinita bondade, fez de Seu sopro o lenitivo da vida, demonstrando que o Silêncio não é a ausência do barulho, mas o colo que embala o sono, sono que desperta a vida, vida que busca os sonhos. Deixe sempre a porta do seu coração aberta, facilite o simples caminho que leva ao seu ser. Aquiete o barulho que você mesmo se permitiu a entrada, deixe que eu, o Silêncio, habite a sua alma. Felicidade, paz, sabedoria e amor, só podem ser advindos de uma alma pura e silenciosa. O barulho é a invasão dos impuros sentimentos que se debatem entre si em busca de poderes destrutivos impondo a fragilidade, a carência, a solidão e outros tantos maus sentimentos que nem merecem ser citados. Eu sou a voz oculta de Deus que pode ser ouvida pelas almas que Nele crêem.“

_ Obrigado, meu amigo! Estou a descobrir, com clareza, que em minhas mãos, os calos e os maus tratos são apenas a constatação de trabalhos dignos e honestos realizados. O cansaço não é nada a mais que a coroação da vitória merecida de cada dia. Obrigado Senhor Deus, ainda que eu não possa sentir o toque de suas mãos, nem mesmo o som de sua voz, sinto através do Silêncio, a força vivificante de Sua benção.

Tonho Tavares.

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 05/10/2016
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