GENTE MAL HUMORADA...
Um Santo, antes de tudo, simpático. Sim, este de hoje, o São Francisco. Foi moço fanfarrão, alegre e rico. Por intuição e sentimentos genuínos em relação à pobreza e à riqueza, abandonou a segunda a duras penas. Venceu impulsos e tentações, sagrou-se Santo.
Trouxe-nos bonitas e preciosas palavras, em lábios sedentos de apagar os prejuízos que a humanidade causa a si mesma.
Um homem simpático, que se tornou, em excepcional feito, um santo.
Por falar em simpatia, hoje fui ao laboratório para colherem meu sangue, a fim de exames de rotina. Sentir uma espetada de agulha não se compara ao sacrifício de São Francisco, que em um de seus transes de tentação, desnudou-se e se deitou sobre a neve, para afastar-se do pecado. Porém, para nós que nada de santos temos, a agulha (e sua aguda ponta) nada têm de agradáveis. Perdoem-me a má comparação.
Não me incomodei muito com ela, a agulha. O que me incomodou foi o mau humor reinante no laboratório. Tive certa pena daquelas pessoas, matutando nas causas que as teriam levado a tanto desconforto espiritual.
Sei que a vida lá fora está provocante e necessita (sobretudo) da Oração de São Francisco: “Oh, Mestre, fazei-me instrumento de Vossa Paz [...] Onde houver ódio, que eu leve o amor”.
Pensei com meus botões, será ódio ou doença o que faz de pessoas (tão bonitas) assim, amargas?
Tive um sentimento do qual não gosto, mas tive, sim, pena ao vê-las (no início da manhã) em tão lastimável estado. Teriam levado uma “bronca geral” de um chefe também mal humorado? Como estariam às dezoito horas?
A palavra distimia vem do grego e durante muito tempo foi usada para caracterizar uma pessoa que está sempre irritada e ela, a distimia, é um tipo de depressão crônica moderada, que se manifesta precocemente, isto é, já na adolescência. É preciso que se tenha especial atenção, quando um adolescente foge ao normal, pois pode estar surgindo nele séria doença de comportamento. O mau humor, por exemplo. A doença agrava-se e permanece, evidentemente piorando a cada dia.
Sinceramente, uma pessoa mal humorada constantemente é difícil de aturar, chefe de mau humor, então, nem se fala. Mal sabe ele que uma atitude grosseira pode levar ao caos os seus subordinados e tal caos faz caírem a qualidade e eficiência do trabalho, com drásticas consequências.
Tentei sorrir para as atendentes do laboratório, sem sucesso. Disse bom dia, sem sucesso. A senhora, que serve o cafezinho do desjejum, também estava mal humorada:
“_A senhora prefere bolacha, bolo ou wxrynte?
_ Qual é o último item?
“_Misto-quente.”
Óbvio que não queria preparar o tal do misto! Bolo e bolacha eu não devo comer e estava varada de fome. Solicitei o misto e nem direi com que olhos ela me mirou.
“Oh Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolada”, mas que a agulhada doeu muito mais hoje que nas outras vezes, doeu!
Antes que me esqueça: gente mal humorada precisa de tratamento.
Dalva Molina Mansano