MESMO COM O SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA
Onde está alojado em nossas mentes tal juramento?
- Urge que ele seja encontrado e extirpado definitivamente.
Enquanto alguns profissionais, juram salvar vidas, o que é muito bom, policiais juram perdê-las para salvar a vida dos outros. Esta na hora de evoluirmos, pois não tem graça trocar uma vida boa por outra de igual qualidade.
Bem que estas juras poderiam ser:
- Mesmo com o sacrifício da vida de algum bandido inconsequente.
Ontem assisti o efeito do encalacramento deste juramento, resultado da liberação em pequenas doses, como se fosse o hormônio da morte.
Ultimante tenho me surpreendido diante da minha própria distração. Talvez esteja perdendo o cacoete de policial e muito mais, o tal juramento tenha se esvaído nestes quase 44 anos.
Embarcamos na lotação, um transporte mais confortável, que o ônibus, paguei as duas passagens e sentei-me, confesso que dei uma olhada nos passageiros, como sempre faço, principalmente nos que ocupam os últimos assentos, que estavam vazios.
No segundo assento destinado aos passageiros especiais havia um homem magro, aparentando entre 35 e 40 anos, roupas velhas e tênis surrado, de jaqueta, chamou-me a atenção uma tatuagem no dorso da mão, daquelas feitas a martelo, típicas de presidiário dos anos setenta e oitenta do século passado.
Alguém pensará que meu pensamento fora preconceituoso, mas esta era a realidade e realidades impressas em nossos intelectos não mudam por decreto, nem a do juramento, nem a de experiência de vida.
Quando nos preparávamos para descer, o passageiro da frente levantou-se e dirigiu-se ao motorista, falou alguma coisa e aguardou. Perguntei se ele iria descer na próxima parada. Não, descerei na esquina, respondeu ele. Não costumo descer fora de paradas, mas como a lotação parou para ele, nós aproveitamos e descemos.
Enquanto aguardávamos para atravessar a rua ele perguntou se tínhamos observado o passageiro da direita. Rapidamente passou-nos o modus operandi do ladrões que atuam naquele trajeto, que inclusive havia alertado o motorista, que provavelmente logo adiante o parceiro dele fosse embarcar, que sabia disto porque era policial. Embora ele aparentasse uns 50 anos, pensei de cara que estivesse a conversa para algum tipo de golpe, então lembrei que ele havia benzido-se quando a lotação passou pela paróquia Pão dos Pobres e isto não é típico de criminosos.
O que mais surpreendeu-me foi quando disse que das várias ameaçadas que o homem fez em levantar-se, ele preparou-se para agarrá-lo se viesse assaltá-lo.
Fiz a última pergunta e nos despedimos.
- Estás armado? - Não, respondeu ele. Respirei aliviado, mas não por ele estar desarmado, mas pelo tal suspeito não ter tentado assaltar-nos, pois se estivesse armado, nos bem no banco atrás de onde travar-se-ia a luta.
Então compreendi porque alguns policiais morrem, quando tentam alguma reação, mesmo estando desarmados.
É o tal hormônio da morte, que nos inoculam quando fazemos o juramento à bandeira!