dores perdas e outras estórias.
Precisava me manter calmo diante de situação desoladora, meu pai estava em estado grave no serviço de terapia intensiva do Hospital de Ipanema no Rio de Janeiro, após uma complicação de uma cirurgia no aparelho digestivo.
Fato é que após o procedimento, já em casa começou a apresentar fortes dores, e quadro febril que não melhorava com nenhum medicamento.
Assim levado a Pronto Socorro foi imediatamente encaminhado para um lugar de maior recurso. Prevendo a gravidade do quadro, meu pai quase que em um ato despedida, ainda lucido mas muito abatido, disse :
-Estou indo embora e não volto.
Teimoso que era, diante da situação demonstrei meu descontentamento, dizendo.
-Que nada, pai, você volta sim, vai ficar bom.
Em seu ultimato,meu pai reafirmou.
-Não, volto,sei disto, e ajuda sua mãe. ordenou.
-Protege e obedeça a sua mãe. Disse mais uma vez,como se fosse uma missão a ser cumprida.
No aparato das arrumações finais,e já dentro da ambulância , vivi naquele instante, uma das cenas mais desagradáveis que poderia haver.
A porta se fechou, minha mãe foi junto, e eu fiquei ali parado, como
uma estátua, com pensamento entre a dor e a esperança.
Ao chegar ao Hospital foi levado direto para a UTI.
Meu pai ainda resistiu dois dias quando fui ao Rio visitá-lo, era uma 11 horas da manhã, quando entrei pela primeira vez naquele ambiente
até então desconhecido, com múltiplos aparelhos ligados, onde várias pessoas em estado grave, senti uma sensação esquisita, quase de perda da consciência quando vi meu velho ali deitado já sem responder a estímulos, mas deu a impressão de uma lágrima ter rolado calma em sua face quando diante dele ainda consegui forças para dizer -Pai. acorda, vai melhorar.
O tempo para estas visitas são muito curtos, desci desolado, agora quase sem esperanças, assim que saí do Hospital, fiquei alguns instantes em silêncio, sem saber o que pensar ou "falar comigo", porque sempre converso comigo.
Fechei os olhos, alheio as outras pessoas e pedi apenas para que meu pai não sofresse.
Após um breve lanche, ainda abatido, retornamos a portaria do Hospital e recebemos a notícia. Meu pai havia nos deixado definitivamente.
Novamente fechei os olhos, sem saber novamente o que pensar, mal consegui falar comigo novamente, mas deu para ouvir uma voz preocupada com minha reação diante de uma perda tão grande, uma voz suave a me consolar dizia:
-Isto mesmo meu filho, não chore. Reze.
Até hoje não sei o que eu falei comigo naquele instante, mas acho que pela primeira vez na vida, rezei...