Os retirantes.
Quem passa sob esse sol? Vermelho é quase sangue!
Quem tudo traz e nada tem.
Será bicho esquecido,
Será filho de alguém?
E esse choro a espantar a solidão do caminho,
Que é verde cacto, cinza espinho,
Será vento,
Será passarinho?
Quem chora ao meio dia debaixo das árvores desnudas sugando tetas vazias?
E esse som gutural, sem forças, quase a morrer.
Que expressa o fundo da alma
Que nos diz sem nos dizer!
Será carne viva,
Será algum ser?
Na areia há coisas mortas, que dantes se escondiam,
Sob as águas caudalosas, vivas, no fundo do rio.
Quem passa sobre esse leito?
É quase fogo,
É tudo seco!
Quem atravessa esse fogo essa cruel sequidão,
Será filho de Eva,
Será neto de Adão?
Nas árduas estradas mortas traçadas em cruéis travessias,
Choram os seres em sua volta.
É a mais infeliz melodia!
Eles como fantasmas na imensidão dos dias,
Pele, osso, frio, fome, sede, fogo, heresia e a morte sempre os rodando,
Sob o sol ao meio dia.
Quem padece nessa estrada nem a cruz tem o direito
Fica ali em cova rasa, bem feliz e satisfeito!
Por ter fugido dessa vida, para qual foi um eleito.
Quem atravessa essa estrada de morte, fome e dor?
Nos rastros há cinco dedos!