#SOMOSTODOSDIFERENTES
Não sei o que é ser negra.
Não sei o que é ser gorda demais, magra demais, cadeirante, asiática, índia, pobre, mãe solteira adolescente, analfabeta, favelada. Não sei o que é ser gay.
Estou à margem da maioria das minorias. Mas de uma coisa eu sei: não sou macaco. Nenhum de nós o é! Somos diferentes, e é isso o que nos faz seres-humanos.
Não sei o que é ser uma mulher que nasceu na favela, engravidou aos quatorze, e aos vinte foi parar na cadeia, cúmplice do namorado traficante. Não sei o que é ser um garoto negro, que ingressa em uma universidade pública pelo sistema de cotas, e como se não bastasse todo o preconceito que já sofrera na vida, ainda tem que ouvir piadinhas dos colegas ignorantes que duvidam da sua capacidade intelectual, e dizem que ele só está lá porque “ganhou” uma vaga.
Mas de uma coisa eu sei: não somos todos Amarildo. E ainda que nos solidarizemos com o ocorrido, ainda que doa em cada um de nós, não somos iguais. Ninguém o é!
Não sei o que é passar fome. Ser acordada no meio da madrugada pelo marulho das balas que cortam o céu à procura de um alvo qualquer. Pois qualquer um é alvo da violência. Não sei o que é perder o pouco que se tem em uma enchente. Não sei o que é ter um dependente químico na família. Não sei o que é violência doméstica, abuso sexual, alienação parental, abandono afetivo. Já fui chamada de quatro-olhos na escola, mas isso não é bulling.
Estou encastelada no meu mundinho perfeito, e ainda que tente me colocar no lugar do outro, o sapato está sempre apertado demais ou grande demais. Nunca me serve. Sou solidária à banana que foi comida. Sou solidária ao gesto de grandeza do atleta brasileiro, que é negro, mas não é macaco.
Não somos iguais. E nem deveríamos ser! A essência nos difere e a vivência nos confere experiências. Somos muito do que nos oferece o meio, mas não somos primatas comedores de bananas, ainda que nossa suposta origem nos faça acreditar que sim.
Não sei o que é praticar candomblé em um país predominantemente católico. Mas sou espírita kardecista e sei o que é preconceito. Sou mulher, e sei o que é preconceito. Sou funcionária pública, e sei o é que estigma.
Sou a favor de contraceptivos, sexo antes do casamento, aborto em determinados casos, controle de natalidade, livros de auto-ajuda, antidepressivos, e muitas outras polêmicas cuja defesa nos confere o título de advogados do diabo.
Pergunte a um negro se ele se acha um macaco. Se o mesmo responder que sim, olhe envolta e procure a câmera escondida, pois você estará na Pegadinha do Malandro!
Uma banana ao preconceito. Uma banana ao oportunismo disfarçado de defesa de direito.
Lorena de Macedo