Felicidade Própria

Eu carregava uma caixa pesada. E toda vez que esbarrava com alguém pelo caminho esse peso fazia aumentar. Qualquer opinião alheia eu guardava nela, materializando em mim as projeções dos outros. Mas um dia, de tão cheia, a caixa começou a transbordar. Então, precisei de outra. Carregava uma em cada mão. Eu tinha dons de malabaristas, e equilibrava as opiniões de terceiros sempre tentando atender as expectativas desse respeitável público. E eu achava que era feliz com tantos avalistas a apertar minha mão, e me dando tapinhas na costas. Mera ilusão!

Um dia perdi o equilíbrio e a caixa caiu... sem paraquedas, nem rede de proteção ela se espatifou no chão; como um frágil cristal se fez em milhões de caquinhos. E os sorrisos amarelos me abandonaram, foram embora. Chegaram os semblantes sérios, rostos inquisitivos, caras de condenação, e os dedos apontavam julgadores. Diziam-me extraviado, sinistro, errado, infeliz. Mera ilusão!

Porque foi a partir de então, quando larguei mão de toda e qualquer opinião ao meu respeito ou sobre minha vida que passei realmente a ser feliz. Andando na minha linha conheci uma felicidade própria, siamesa do amor-próprio. E sem caixa, nem saco para encherem. Pois que encham meu copo de cerveja e minha cara de sorrisos...