(10)CULPE-ME, AMIGO!

Que droga, hein!

Arrumou-me bela encrenca.

Acho que perdi um amigo.

Tudo por que cometi uma falha.

Tá certo... Errei... Omiti um plural no texto.

Não carecia ter ficado tão chateado.

Tem razão...

Houve certo exagero...

Tudo bem.

Também amuo um pouco quando erram comigo.

Meu nome, por exemplo.

Tem gente que manda carta, bilhetinho para o Ivan.

O nome que mamãe decidiu batizar-me quando percebeu o bebê chorão, mijão, fralda toda hora molhada e “perfumada” que tinha acabado de parir.

Ivan, o Terrível.

Recebo e leio toda cartinha com a maior atenção.

Vem piadinha... Morro de rir... Vem até pedido de ajuda financeira

Entretanto, chega uma ou outra para um xará meu, um tal de Ivã.

Chateio-me um bocadinho, entretanto não xingo, nem reclamo.

Pergunto ao carteiro eventual engano de entrega.

Normalmente, ignoro a falha.

Continuo cumprimentando o remetente.

Dependendo do humor, faço uma brincadeira.

Retorno uma carta ao remetente e no envelope coloco um “ENE” enorme. Bem grandão. Até em letra vermelha.

E levo a vida em frente.

Pudera! Vou ligar pra bobagenzinha.

Já fui chamado de tanto nome, que um errinho de tal porte, nem me importa há tempo.

No colégio era vítima de buliyng. Chamavam-me de gordinho, chiclete de onça, baleia. A falta de cabelo ainda não era referência. O apelido de careca vem de pouco.

Uma década?

Hum... Melhor contando... Talvez quatro.

Bem! O tempo apaga tudo.

Breve, talvez tudo retorne ao normal.

Dou-lhe meu perdão...

Amigo de tanta hora ruim. Parceiro de criação.

Não tem culpa alguma.

Eu o deixei cair e quebrou a porra da letrinha entre o “a” e o “de”.

Não me olhe com ar de crítica.

Colocar o pé embaixo?

Machucar-me. Ficar com o pé inchado?

Nem pensar...

Calado!

Ainda bem!

Amanhã é dia trinta, recebo meu pagamento, compro um novo...

Volto a ter plural em minha vida.

Você?

Você vai pro lixo.

Lamento... Teclado quebrado é inútil. Objeto reciclável.

Agora chega!

Sem choramingo...

Boa noite!

Crtl... alt... del...