Memórias de criança

Memórias de criança

Éramos cinco irmãos, nosso pai era ferroviário, e não tinha um bom salário na sua função, mas, era o suficiente para nossas necessidades.

Nossa mãe, dona de casa, sempre inventava alguma coisa para fazer e auxiliar no orçamento da família, e o que mais fazia, era flores de papel crepom, para época de finados. No entanto, ficávamos bastante limitados para qualquer extravagância. Dos cinco irmãos, eu era o segundo, logo depois mais três menores que eu.

Comigo tudo terminava com “ente”, eternamente, apaixonadamente, perdidamente, e assim por diante. Ficava muito impressionado com o voo dos pássaros, e pensava, como eles podem fazer isso, voar livres para onde quisessem , era uma coisa grandiosa e imensurável.

Aquelas histórias de reis e rainhas, príncipes e princesas, gnomos e fadas me impressionavam muito. E a fada Sininho que voava com aquele menino Peter Pan? Já pensou, como pode um menino voar como os pássaros? Que coisa fantástica, eu queria ser como ele!

Um dia apareceu na nossa cidade, o filme do Peter Pan, essa era a oportunidade de ver essa criatura que voava, também na minha imaginação. Porém, ainda era uma criança, e não tinha dinheiro para ir ao cinema, fiquei profundamente triste, minha mãe percebeu e falou comigo, então lhe expliquei meu sonho, mas, ela também não tinha dinheiro, meu pai guardava sua carteira no bolso com o que sobrava para o resto do mês, e não podia fazer nada.

Fiquei curtindo minha minha tristeza perdidamente, pois, não podia fazer nada para ver o menino que voava. Minha mãe tentou fazer alguma coisa para conseguir o valor, mas, o dia de finados estava muito longe. E ela vendo minha tristeza teve uma ideia. Foi falar com meu pai, e lhe pediu dinheiro para comprar alguma coisa para casa. Meu pai lhe alcançou a quantia que ela pediu, e imediatamente, escondido de todos me chamou, e me deu o valor do ingresso. Eu não sabia se ria ou chorava, enfim, agora posso ver o menino que voa. Então sai correndo para não perder a única sessão no cinema. Foi maravilhoso, vivenciar um menino que tinha habilidade de voar como os pássaros, e assim, estava perdido na imaginação da Terra do Nunca. Quando voltei para casa, era um turbilhão de imagens e pensamentos, que só podem existir nos sonhos de uma criança!

E por causa dessa lembrança, que quero agradecer minha mãe, por ter ajudado a manter meus sonhos, com sua força e vontade, que só uma mãe sabe fazer.

Onofre Vieira