AS TENTAÇÕES NO DESERTO
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
“LastDays in the Desert” é um filme americanodirigido pelo colombiano Rodrigo Garcia. Não se faz aqui uma crítica ao filme noseu viés bíblico.Contudo, a partir de seu enredo,várias, profundas e ricas reflexões podem ser extraídas, dentre elas, solidão e confronto com as tentações.
“Jesus foi então conduzido pelo Espírito, ao deserto, para ser tentado pelo Diabo”. Assim se inicia o capítulo quarto do Evangelho de São Mateus. O filme aborda supostamente os últimos dias no deserto, a caminho de Jerusalém. O entendimento de um período exato, ao todo, de 40 dias e 40 noites, em jejum e oração, não vem ao caso. Trata-se de um período longo, conclusivo e decisivo de provação, de confrontação psicológica, mais do que de jornada física,Conclua-se que sempre haverá crise, sempre faltará completude à humanidade.A explicação de quem seja Deusvem mais do Diabo que do próprio Jesus. Sua primeirafala, no filme, “Pai, onde estás?”, coincidecom um dos sete últimosdizeres, na cruz.
Ao longo do filme, através da fotografia, filtra-se o olhar divino.Raios solares inundam o quadro, cujaintensidade é monitorada nos momentos mais dramáticos. Jesus, que enfrenta a personificação do Diabo, é estrelado por Ewan McGregor, a desdobrar-se nos papéis de homem santo e diabo, Deus e o Diabo na Terra do Sol.De propósito ou não, esse duplo desempenho antagônico é relevante. Dessa leitura psicanalítica de Jesuscabe outra leitura.Dentro de cada uma, cada um de nós, duelam um anjo e um leão; aquele representando o bem; esse, o mal. Este, leão a rugir, provoca, dentro de nós, descrença, ambições desmedidas, incontidos rancores...Será que o maior inimigo de nós mesmos estaria dentro de nós próprios?
Recorrente nas obras de Guimarães Rosa,apresença do Diabo torna e retorna a Riobaldo: “quem-sabe, a gente criatura é tão ruim, tão, que Deus só pode às vezes manobrar com os homens, é mandando por intermédio do diá?”